quinta-feira, 26 de novembro de 2009

O BRASIL DO LULA

O BRASIL DO LULA

Caetano perdido no Brasil de Lula


Candido Mendes

Jornal do Brasil - 25/11/2009


Até onde convive com a democracia o excesso da popularidade presidencial? O exemplo de Lula ao reforçar o seu ineditismo é o de que só avança na aprovação política o presidente que renunciou a toda a veleidade de um terceiro mandato, e chega a esses dados únicos de aprovação em fins de seu segundo governo.

Não há que repetir como os países lá fora, a partir do próprio Obama, mostrem o nosso capital de respeito internacional. É o roldão que acossa o status quo nacional, enraizado na oposição proverbial que parece, de vez, perder o pé entre nós. Ou fecha-se a todos os “olhos de ver” e explode em despautérios melancólicos, como vem de fazer o atarantado Caetano Veloso, chamando Lula de analfabeto e cafajeste.

É frase de quem fala de seu quintal bem instalado, e insulta o presidente que mudou a escala da prosperidade brasileira. Trouxe a população de uma Colômbia para a nossa economia de mercado e se vê reconhecido por todos os grupos e segmentos da nova mobilidade nacional. A grosseria nada tem a ver com sentimentos de classe média, que hoje já responde por 56% da nossa população.

O novo e inédito comando de Lula não é o de um carisma clássico, em que uma coletividade delega a um fuehrer, ou a um chefe da hora, o exercício ou forra de sua expectativa coletiva. O “Lula lá” é a do povo todo que chegou ao Planalto, e que hoje na sua solidariedade independe de partido, de poderes corporativos sindicais e desarma todos os cálculos de um ganha e perde do rondó político tucano.

A palavra diária do presidente, que não ensina, nem prega, mas tem o dom da consonância com o que o povo quer ouvir, não como consolo, mas o passo a passo – e o PAC o assegura – deste Brasil que se sabe no poder, e o frui. Há, sim, um tom de repente no que ouvimos todo dia, mas é também o de uma reflexão em marcha, que criou este coloquial único de entendimento que nada tem mais a ver com a fala “bem” do país dos hierarcas. O novo é muitas vezes o óbvio, sim. Mas esse que se reautentica tão só por quem pode dizê-lo.

O país que vai às urnas em 2010 tem na sua cabeça novas e legítimas razões de apoio ao governo que descartou por inteiro o que diga o palanque das oposições vociferando contra os ditos analfabetos e cafajestes. O nouveau richismo verbal de Caetano só mostra como se perdeu no Brasil de Lula, este que sabe para onde não quer voltar, e de como vai adiante, nas certezas do país da mudança e não do vedetismo deslumbrado.

Candido Mendes é presidente do senior board do Conselho Internacional de Ciências Sociais da Unesco, membro da Academia Brasileira de Letras e da Comissão de Justiça e Paz.
Fonte: O Terror do Nordeste.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Confiram a entrevista do Presidente iraniano à Agência Brasil e à TV Brasil, a fonte é o blog "Os amigos do Presidente Lula";

Ahmadinejad declara que época do armamento nuclear acabou e deixa Lula bem na foto

Em entrevista à Agência Brasil e à TV Brasil, que irá ao ar hoje no telejornal Reporter Brasil, o presidente do Irã faz declarações moderadas.

Em que pese desconfianças sobre o discurso, o fato do presidente Ahmadinejad recorrer a uma retórica de responsabilidade e moderação, mostra uma vitória política do presidente Lula diante de seus críticos.

A entrevista também elucida alguns pontos pouco conhecidos sobre o Irã.

Veja a seguir a integra da entrevista, que será exibida hoje, às 21h, no programa Repórter Brasil, da TV Brasil:

Empresa Brasil de Comunicação (EBC): Presidente Mahmoud Ahmadinejad, no seu longo encontro reservado com o presidente Lula, o que foi tratado?
Mahmoud Ahmadinejad: Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso, eu apresento as minhas saudações ao povo brasileiro: um povo culto, um povo simpático, um povo muito amável. É muito natural que, quando dois grandes países conversam, essa conversa seja longa. Nós fizemos uma revisão sobre nossas relações bilaterais e os campos livres em que podemos buscar novos entendimentos. Fizemos uma avaliação sobre a conjuntura mundial e também nos perguntamos sobre os esforços que podemos fazer para a paz mundial. Concordamos que tanto a minha visita como a do presidente Lula ao Irã, em 2010, poderá fortalecer as nossas relações bilaterais.

EBC: O que ficou decidido sobre a atuação dos dois países nos conflitos do Oriente Médio?
Ahmadinejad: As causas dos conflitos do Oriente Médio constituem uma das questões mais complexas do mundo. Temos que identificar as raízes e assim tratá-las. Vamos continuar nossas conversas com o presidente Lula nesse sentido. E espero que, baseados na justiça, possamos chegar a uma solução, porque o presidente Lula deseja justiça e nós, também. Pode ser que nossas informações sejam diferentes e até nossas atitudes e nossos comportamentos. Se intercambiamos nossas opiniões e ideias, pode ser que isso coincida e criaremos uma opinião. Estou com muita esperança e que Deus ajude nisso.

EBC: Com o conjunto dos acordos assinados hoje o que vai representar em termos de balança comercial entre Brasil e Irã?
Ahmadinejad: O Produto Interno Bruto (PIB) iraniano é da ordem de US$ 800 bilhões (paridade de poder de compra), isso num momento em que os preços no país estão muito baixos em termos internacionais. É muito natural que as relações entre os dois países sejam feitas em torno do desenvolvimento econômico – nós temos potencialidades e também necessidades. E Brasil, o mesmo. Podemos trabalhar em um sistema de complementaridade na atividade produtiva e comercial para que os dois países se desenvolvam economicamente com mais aceleração.

EBC: O presidente Lula conseguiu mudar a sua visão sobre a questão nuclear?
Ahmadinejad: Será que ele queria fazer isso?

ABr: Havia uma expectativa de que o Brasil e o Irã poderiam estabelecer um caminho comum na questão nuclear?
Ahmadinejad: O caminho comum não significa alteração das visões. Nós estamos caminhando por um caminho e isso quer dizer que também estamos fazendo cooperações naquilo que é semelhante entre os dois países.

EBC: O Irã assinou o tratado de não proliferação, e existe inclusive uma lei rigorosa religiosa que proíbe armas nucleares. Por que o resto do mundo tem dificuldade de acreditar no Irã?
Ahmadinejad: Não é o mundo, são alguns países que têm hostilidade conosco, eles querem monopolizar a energia nuclear. Até são contra o desenvolvimento do Brasil e também são contra o desenvolvimento do Irã. Inspecionaram atividades [nucleares] iranianas e foi divulgado pela Agência Internacional de Energia Nuclear que não houve desvio no programa nuclear iraniano.

EBC: De onde vêm os fundamentos das críticas?
Ahmadinejad: Aqueles que estão contra o Irã não são pessoas que estão contra os armamentos nucleares; porque eles têm. Se alguém está contra um ato ilegal, inaceitável, em primeiro lugar, não tem que fazer isso. Como eles estão praticando isso e querem que outros não pratiquem? Nós pensamos que a era dos armamentos nucleares já chegou ao fim. Se esses armamentos nucleares fossem úteis, teriam ajudado a União Soviética e também o governo norte-americano a vencer no Afeganistão e no Iraque. O regime ocupacionista de Israel também poderia ganhar algo em Gaza. Sabemos que isso não ajuda. Tanto pelos regulamentos como pelos pensamentos sobre o uso desses armamentos. Pela religião, é proibido, e no pensamento lógico isso também não funciona. Nós achamos que aqueles que estão à procura de armamentos nucleares são pessoas politicamente atrasadas. A era dos armamentos já acabou. Começou a era da humanidade, do pensamento: o poder dos povos é o pensamento e não os armamentos nucleares.

EBC: O Irã vai continuar sua experiência com enriquecimento de urânio ou vai comprar no exterior o urânio enriquecido de que precisa?
Ahmadinejad: Continuamos o enriquecimento de urânio para combustível em nossas usinas. O que nós queremos comprar é combustível para um reator que ajuda na produção de medicamentos. Nós propomos isso para que se desenvolva a cooperação em nível internacional. E deixamos uma oportunidade para que aqueles que estavam contra o Irã possam estabelecer uma cooperação com o programa nuclear iraniano.

EBC: Há uma minoria judia no Irã que relata ser muito bem tratada, acolhida, respeitada pelos iranianos, mas há outras minorias que enfrentam certas dificuldades, como, por exemplo, 18 líderes Baha'is presos recentemente e outras pequenas minorias que reclamam por direitos humanos. O Irã, que sofreu com o autoritarismo de outros países, pode se permitir condições autoritárias para parte de sua população?
Ahmadinejad: Pela Constituição iraniana, todas as religiões divinas são livres para praticar suas tradições, como judeus, cristãos, muçulmanos. Essas religiões podem praticar seus costumes e cultos e ter representação no governo e no Parlamento. A nossa Constituição não considera Baha'is como religião. Não é uma religião, é um grupo político e, por isso, não é reconhecido pela Constituição. No Irã, na convivência pessoal, eles (Baha'is) estão livres, mas não podem estar presentes na governança do país ou ter um centro para seus cultos. Isso é lei.

EBC: Essa resposta provocou uma dúvida: o que é democracia para o senhor?
Ahmadinejad: Hoje democracia tem mais de 50 aspectos diferentes. Um conceito e uma definição, por exemplo, é o governo do povo para o povo. E os meios para atingir isso são diferentes, mas só sabemos que o grau de democracia no Irã é muito alto. Cerca de 70% das pessoas participaram das eleições, isso mostra alta participação e alta liberdade, podemos dizer. É que no Irã não existe obrigatoriedade de voto nas eleições. Isso acontece em plena liberdade. Os candidatos também estão livres para expressar suas ideias, uma liberdade plena, em todas as instituições do Irã.

EBC: E qual é o melhor exemplo?
Ahmadinejad: Nós achamos que a democracia que terá sucesso é a que for baseada em aspectos bons. A democracia que está sustentada no domínio do poder e da riqueza, essa não é democracia. Basta olhar para Estados Unidos – são dois partidos que participam. Será que toda a população americana se divide entre esses dois partidos? E eles estão obrigados a votar nesses dois grupos, não têm outra opção. Porque tanto a mídia quanto a riqueza estão nas mãos desses grupos, se aparece um independente, certamente não vai ganhar, porque o sistema eleitoral lá é muito custoso. Quem pode ganhar é o que gasta muito, milhares... E o resto da população? Qual é a sua posição? E na Europa também é o mesmo. Só dois partidos que normalmente ganham mais votos. Certamente a democracia aqui no Brasil e no Irã é mais avançada quando comparada com o resto do mundo.

EBC: O senhor acha que democracia do Brasil pode servir de modelo?
Ahmadinejad: Acho. Acho que existe liberdade no Brasil, existem muitos partido,s e o poder não está dividido em grupos específicos. Nos Estados Unidos, o poder durante os últimos 100 anos está dividido entre dois partidos apenas. Como isso pode acontecer? Isso quer dizer que a democracia lá é muito limitada, mas, no Irã, até as pessoas independentes, sem filiação partidária, podem participar das eleições. O dinheiro não é definição para participação. Mas nos lugares em que o dinheiro define a participação, onde está o lugar do povo? Desejamos que chegue um dia em que possamos aplicar a vontade dos povos. Desejo mais uma vez prosperidade e desenvolvimento para a nação brasileira e para todas as nações.

COMPARAÇÃO DA ERA FHC E SEIS ANOS E MEIO DO GOVERNO LULA

COMPARAÇÃO DA ERA FHC E SEIS ANOS E MEIO DO GOVERNO LULA
O jornalista Emir Sader, fez um resumo comparativo dos oitos anos de governo, do tucano FHC e os seis anos e meio de governo Lula.Sem dúvida nenhuma, será o maior retrocesso administrativo e político para o país, uma volta do tucanato ao poder, podemos afirmar, com certeza, que o país caminhará para trás, perdendo conquistas importantes para o avanço do país que ocorreram durante o governo Lula, e que precisam ter continuidade e avançarem ainda mais. Vejam o resumo abaixo do Emir. Fonte: PHA.
Pequeno balanço comparativo:
FHC - PSDB/DEM (PFL) LULA/PT

Quadro1QuadroComparativoQuadro4Quadro5


domingo, 22 de novembro de 2009

DISCUSSÃO SOBRE O APAGÃO

DISCUSSÃO SOBRE O APAGÃO
O Blog do Luis Nassif, publica artigo do Stanley Burburinho, fazendo uma retrospectiva esclarecedora sobre o "verdadeiro apagão" ocorrido no governo do tucano FHC, mostra claramente, como difere e muito do blackout ocorrido este mês no país, como vocês podem conferir abaixo, o apagão do FHC, foi uma irresponsabilidade sem tamanho.
A cronologia do apagão de 2001 (do Blog do Luis Nassif)

Por Stanley Burburinho

São meus todos os grifos nos textos abaixo – Stanley:

A CRONOLOGIA DOS ALERTAS

Não foi por falta de aviso. Houve muitos. Foi por imprevidência mesmo – e crença na salvação das chuvas. Abaixo, alguns dos alertas recebidos por dezenas de autoridades do governo:

1 – Setembro de 1995 – A Eletrobrás alerta o ministro das Minas e Energia, Raimundo Brito, para o risco de racionamento de energia em 2001-2003 e estima que, nesse período, o consumo terá de cair 10%.

2 – Maio de 1996 – A Eletrobrás alerta o presidente do BNDES, Luiz Carlos Mendonça de Barros, o secretário Andrea Calabi (Planejamento) e os secretários José Roberto Mendonça de Barros e Pedro Parente (Fazenda) sobre a gravidade da crise. Em documento de 38 páginas, lista medidas emergenciais e prevê racionamento para o período 1998-1999.

3 – Junho de 1997 – Num encontro em Belo Horizonte, técnicos das distribuidoras de energia alertam para o risco iminente de blecautes em Minas Gerais, Pernambuco, Bahia, Sergipe e Alagoas.

domingo, 15 de novembro de 2009

A CONIVÊNCIA DA MÍDIA COM O FHC

A CONIVÊNCIA DA MÍDIA COM O FHC

Através do "blog do Ailton",, li a reportagem da revista "caros Amigos", publicada em Abril de 2000, que mostra claramente, como a grande mídia, mantém um relacionamento suspeito com os tucanos, desde a década passada e que se foram capaz de esconder tal fato por mais de dez anos, imaginem, fatos mais graves, tais como, a sujeirada das privatizações, da reeleição, entre outras. Vejam abaixo:

O Filho de FHC com uma Jornalista da Globo

por Palmério Dória, João Rocha (de Barcelona), Marina Amaral, Mylton Severiano, José Arbex Jr., Sérgio de Souza, da revista Caros Amigos nº 37, de abril de 2000.

Esta reportagem começou assim: o jornalista Palmério Dória ofereceu para Caros Amigos um artigo cujo título era: Presidente, Assuma!, referindo-se ao filho gerado do romance entre Fernando Henrique Cardoso e a jornalista Miriam Dutra quando o atual presidente da República era senador. A jornalista trabalhava, e trabalha ainda, para a Rede Globo, na ocasião como repórter em Brasília, hoje como correspondente em Barcelona, Espanha.

> FHC vai reconhecer o filho que teve com jornalista da TV Globo. - 15 de novembro de 2009

FHC-Caros-Amigos O artigo, depois de dizer que o casal era visto nas noites de Brasília a partir do final de 1988, contava em detalhes, revelados por testemunhas, a reação irada do então senador, com xingos à jornalista, expulsão da sala e um pontapé no circulador de ar, que foi parar longe, no dia em que ela foi ao seu gabinete participar-lhe a gravidez. Abordava em seguida a situação criada após o nascimento da criança, em 1991, quando a estrela do senador começava a brilhar na política, projetando contornos para uma candidatura à presidência da República. Citava a participação dos amigos Sérgio Motta e José Serra, cabeças do projeto presidencial, no episódio, primeiro conseguindo para a mãe e a criança um apartamento mais confortável na Asa Sul, onde ela já morava mais modestamente, e, depois, fazendo gestões junto ao diretor de jornalismo da Rede Globo, Alberico Souza Cruz, que é o padrinho do menino, no sentido de transferir a jornalista para Lisboa, o que se efetivou. Dizia ainda o artigo que, a certa altura, esses três personagens foram substituídos, no que o autor chama de corpo de bombeiros, por um conhecido lobista de Brasília, aparentado de Miriam Dutra que em determinadas rodas é chamado de o homem que sustenta o filho do presidente. Antes de encerrar o artigo, o autor pergunta por que tanto segredo, por que a conspiração de silêncio da imprensa em torno da história, listando uma série de políticos e personagens públicos que em casos semelhantes viram noticiados os fatos que haviam protagonizado.

Ao entregar o texto, o jornalista sugeriu que o ilustrássemos com uma foto de Miriam Dutra. E foi aí que as coisas passaram a tomar outro rumo.

Quando procuramos, por telefone, o Departamento de Documentação (Dedoc) da Editora Abril, que vende esse tipo de material, como todas as empresas jornalísticas, ficamos sabendo que lá havia uma única foto da jornalista da Globo, tirada da tela de uma televisão por um fotógrafo da revista Veja, que em 1994 preparava uma reportagem sobre o caso Miriam Dutra/FHC, candidato à presidência da República. Para isso a revista tinha enviado a repórter Mônica Bergamo a Lisboa. O funcionário do Dedoc tratou do assunto com naturalidade, pedindo que aguardássemos um minuto na linha enquanto ultimava os trâmites rotineiros para o envio da foto. Quando voltou ao telefone, desapontado disse que a foto não podia ser liberada, não sabia por quê. Pedimos que transferisse a ligação para a direção do Dedoc, que atendeu, se disse surpresa com o fato, que iria verificar o que estava acontecendo e nos ligaria em seguida. Depois de uma hora, ligou dizendo que realmente a foto não podia ser liberada porque era de autoria desconhecida, envolvia o nome da Globo e, assim, estava bloqueada.

Primeira providência: localizar o fotógrafo, que não estava mais em Veja, trabalha agora para o Correio Braziliense, jornal de Brasília. Ele confirma haver feito a foto para uma matéria de gaveta, no jargão jornalístico aquela matéria que espera a ocasião oportuna para ser publicada ou fica para sempre enterrada. Fiz a foto da televisão porque toda a imprensa tinha a matéria e, se um desse, todos davam, disse ele. Essa informação não só já havia transpirado de Veja, por outra via, como a direção da revista dissera à repórter enviada a Lisboa que ela estava indo procurar Miriam Dutra para que não corressem o risco de ser furados por alguém. De qualquer forma, na volta a repórter entregou um relatório com a entrevista feita com Miriam Dutra, que não quis revelar o nome do pai, disse que o pai não merecia aquele filho, deu detalhes do parto etc. e a matéria foi para a gaveta, apesar de a direção da redação estar dividida, votos a favor e contra sua publicação, prevalecendo ao final o não do diretor, Mario Sergio Conti. Sabe-se que houve ameaça à Abril, por parte da irmã de Miriam Dutra, Magrit, que por telefone disse que quebraria (financeiramente) a editora, caso a matéria fosse publicada.

As contradições apontaram definitivamente para a investigação. Íamos procurar saber como são, a partir de fatos, as relações entre o presidente da República e a mídia. Precedentes já havia, como o da época da reeleição, por exemplo, quando o presidente chamou a Brasília todos os donos dos grandes veículos para pedir uma ajuda em favor de sua candidatura quando em maio/junho de 1998 ela periclitou nas pesquisas de opinião pública.

Antes de qualquer coisa, precisaríamos ouvir Miriam Dutra, procurar confirmar o segredo de polichinelo, como dizem jornalistas que conhecem a história. E praticamente todos os diretores de redação à época das eleições de 1994 a conhecem, embora muitos, iríamos pedir a palavra de todos eles fossem argumentar que não publicaram a matéria porque a mãe da criança não havia procurado a imprensa nem a Justiça e só nessas circunstâncias as normas internas admitem a publicação. O que não é verdadeiro, sabe-se de pelo menos um fato semelhante a esse em que houve até exploração tendenciosa por parte da mídia, fato revelado também em época de campanha presidencial, a de 1990, envolvendo a filha do candidato Lula, trazido a público por um repórter do Jornal do Brasil que foi investigar a história e não porque algum dos envolvidos tivesse procurado a imprensa ou a Justiça.

Outro argumento de diretores de redação em defesa da não publicação da história que resolvemos contar é o de ela não ser um fato jornalístico. Esquisito não considerar fato jornalístico um presidente da República ter um filho fora do casamento com uma jornalista da Rede Globo.

Fomos, então, procurar Miriam Dutra, por intermédio de um jornalista brasileiro, João Rocha, que está morando em Barcelona. Eis o seu relato, de 30 de janeiro deste ano:

Descobri um Colegiado de Jornalistas onde havia um Centro Internacional de Jornalistas. Consegui achar Miriam Dutra em uma lista absolutamente equivocada: a de Madri, mas com um endereço de Barcelona. Fui até lá. É um bairro de classe média alta, na parte mais moderna da cidade. Achei a rua, mas penei para achar o prédio. Enquanto pedia informações na rua para localizar o número que buscava, encontrei acidentalmente um brasileiro. Um homem de seus sessenta e poucos anos, artista plástico paraibano. Havia deixado o Brasil em 1963, mas conservava intato o sotaque, mesmo falando catalão ou espanhol. Seu nome é Oto Cavalcanti, figura interessante, também se confundiu muito para achar o prédio que supostamente era no quarteirão em que ele morava. Quando falei que procurava uma jornalista brasileira, ele lembrou que a moça da banca de jornal havia lhe falado de uma jornalista brasileira da Globo vivendo por perto. Fomos até a banca. A moça se mostrou muito simpática até eu perguntar sobre Miriam Dutra. Aí ela mudou de expressão, de tom de voz e falou que Miriam já se havia mudado e que nunca mais a tinha visto. Perguntei outra coisa e ela simplesmente me ignorou, como se eu não pudesse saber de mais nada. Essa moça, eu soubera um pouco antes pela sua ajudante, tornara-se amiga de Miriam em suas compras diárias de jornais e revistas. Saí da banca com mais algumas informações, porém achando que o endereço que eu tinha estava errado e, além disso, sabendo que Miriam havia se mudado. Mas continuei procurando e perguntando para as pessoas. Todos desconheciam o número, exceto seu Manuel, porteiro português que trabalha há anos na região: Esse prédio fica naquele bulevar atrás do muro do Gaudí, todo mundo se perde. Já era noite e o muro estava iluminado. Lindo! E atrás dele estava o número 61 da rua Manoel Girona. Visivelmente um prédio de classe média alta. O porteiro não estava, mas a caixa de correio mostrava que Miriam não morava mais ali. Esperei que algum morador ou o porteiro aparecesse. Foi o tempo de um cigarro. Lá vinha ele, um típico catalão de uns sessenta anos. Foi dele que pude conseguir a mais rica descrição da nossa personagem. Me descreveu seus hábitos, jeito etc., coisas que um porteiro sabe como ninguém. Falou que ela mudara havia uns seis meses, para perto, e que não a via desde o Natal, quando tiveram uma ligeira discussão sobre as correspondências que ainda chegavam para ela e que já não queria receber. Foi aí que ele completou o perfil que eu estava montando desde que comecei a pensar na personagem: É uma pessoa muito fechada, apesar de ter sido sempre correta comigo. O que eu vou fazer se uma pessoa não quer deixar seus rastros?

Chegando em casa, organizei as anotações e quase joguei fora o número do telefone que supostamente seria o de Miriam, já que o porteiro me havia assegurado que a linha tinha ficado com o novo inquilino. Mas resolvi tentar: Alô?, eu ouvi, tomando um susto tremendo, e então perguntei em espanhol se era da casa de Miriam Dutra. Si, un momento. E ao longe: Mãããe! Era ele, Tomás. Com o coração disparado de quem busca algo durante tempos e encontra por acaso, não tive rapidez para fazer outra coisa que não esperar por Miriam. E ela atendeu: Hola?. É a Miriam Dutra?? Sim. Oi, Miriam, meu nome é João Rocha. Sou um jornalista brasileiro que está vivendo em Barcelona. A revista Caros Amigos está fazendo uma reportagem em que cita o seu nome e pediram que a procurasse para ouvi-la. E ela, meio transtornada: Cita meu nome? Em quê?? Olha, fala de um suposto caso que você teria tido com o nosso presidente da República, Fernando Henrique, e de um filho que teria resultado desse relacionamento. Pelo silêncio que se fez, esperava ouvir o telefone dela batendo no gancho, mas não. Veio a resposta: Olha, João, eu não vou falar nada sobre essa história. Eu não sou uma pessoa pública. Se vocês têm algo para perguntar, não é para mim. Perguntem para a pessoa pública.

A afirmação de Miriam Dutra era definitiva e, no mínimo, removia de vez a argumentação de jornalistas que não contam o que sabem escudando-se em manuais de redação. Seguiríamos sua sugestão de procurar a pessoa pública dessa história, mas só depois de ouvir todos os diretores de redação da época em que o caso aflorou mais fortemente, 1994, FHC candidato. Devíamos começar por Veja, de onde a lebre foi levantada a partir da foto proibida.

Palmério Dória conta sua tentativa:

Liguei para Mario Sergio Conti, que durante a primeira eleição de FHC era diretor de redação de Veja. Previa certa animosidade, porque naquela semana tinha saído em Caros Amigos um quadro comparativo que fiz entre famosos de ontem e de hoje. Portrait du Brésil: décadence avec desélégance?. Entre as quarenta comparações (por exemplo: JK/FHC; bossa nova/pagode; Ataulfo Alves/Alexandre Pires; mar de lama/Proer; Marta Rocha/Adriane Galisteu), sobrou para o autor do best-seller Notícias do Planalto: David Nasser/Mario Sergio Conti. Quer dizer, esperava animosidade mas não a tempestade que desabou: Mario Sergio, estou fazendo uma matéria sobre aquela história que todo mundo fala mas ninguém conta, o suposto filho do Fernando Henrique.... Palmério, você acha que eu vou mover uma agulha por você?? (ainda contendo a fúria) Você me comparou com o... David Nasser...? Tentei dizer algo em meio ao atropelo de impropérios que se seguiu: Mario, estou ligando para o cargo, você tinha a função de diretor de redação.... Eu não sou da sua laia. (berrando) Leve a sua calhordice até o fim! Berrando, desligou o telefone.

Em seguida, Palmério falou com mais três jornalistas que ocupavam posto de comando nas publicações em que trabalhavam durante a campanha presidencial de 1994:

Augusto Nunes, hoje dirigindo a revista Época, era diretor de redação do jornal Zero Hora, de Porto Alegre. Temos uma considerável convivência, começamos juntos no Estadão:

Augusto, falam que todos os jornalões e revistas tinham essa matéria e que, se um desse, todos dariam. Vocês tinham também, para a eventualidade? ?

Não chegamos a ter. Claro que a questão foi levantada na redação: Fizeram uma sacanagem com o Lula, e agora como é que é? Mas quem fez a sacanagem com o Lula foi a Miriam Cordeiro. No caso do Fernando Henrique, a suposta mãe diz que não é. O filho tem um pai no papel, e ela não fala que Fernando Henrique é o pai. A Zero Hora nem partiu para levantar o assunto, que circulava realmente em todas as redações.

Aluízio Maranhão, diretor de redação do Estadão naquele tempo, hoje também na revista Época, garante que o jornal dos Mesquita não tinha matéria de gaveta sobre o caso:

Havia um obstáculo intransponível: ela nega. O rapaz, o registro do menino: ele tem um pai legal. Você vê o caso do Lula. A filha existe, a mãe assumiu, se deixou usar como munição política. Tem que ter algum BO (não Bom para Otário, mas Boletim de Ocorrência). Sendo verdade, termina servindo de munição. Isso vale para um suposto filho de um presidente e para um suposto consumo de drogas de um presidente. Você tem que ter provas e testemunhas com um mínimo de credibilidade. Não tem nada a ver com status social. Por todas essas razões, não chegou a ser tema de discussão, por absoluta falta de provas. Houve um momento em que o site do PDT fez circular uma matéria do Diário de Notícias, de Portugal, com a história. Foi malandragem com interesses político-partidários e decidimos não noticiar. E essa foi a decisão de todos os órgãos.

Hélio Campos Mello, diretor de redação de IstoÉ, comigo foi sempre de uma afabilidade total. Mas, toquei no assunto, adotou o chamado distanciamento crítico, tornou-se seco e objetivo: Não tenho uma história, não tenho a certidão de nascimento, não tenho uma mãe dizendo que o garoto é filho dele (o presidente). Alguém pode dizer: Ah, ele é parecido. O filho do Collor é quase um teste de DNA!

Palmério não perguntou, e o diretor de redação de IstoÉ talvez não tenha tomado conhecimento, mas sabe-se que um repórter da revista fez a matéria e ela foi engavetada, por instância do proprietário da editora, que disse:

Não sou louco, tenho negócios. Esse mesmo empresário já disse, em tom de brincadeira, para quem quisesse ouvir: Sou mesmo um bandoleiro da imprensa; os outros também são, mas não dizem.

Como estivéssemos entrevistando jornalistas, rapidamente a matéria passou a ser comentada nas redações, obviamente indo parar nos corredores do poder federal. Combinamos um jantar, numa churrascaria em São Paulo, com um jornalista que está trabalhando para o governo. Ele disse que havia uma preocupação com a matéria nos altos escalões, amigavelmente desaconselhando-nos a publicá-la. Fez ver que a editora, caso Caros Amigos saísse com a reportagem, podia enterrar a pretensão de conquistar anúncios ou qualquer serviço editorial da área governamental, que abertamente havíamos pleiteado com ele como pleiteamos junto a todo o tipo de empresas institucionais. Ao contrário, acenou, não saindo a matéria eram muito boas as chances de obtermos no futuro algum tipo de serviço editorial para órgãos públicos.

Em um almoço, numa cantina, também em São Paulo, Palmério Dória, que julgavam ser o único autor da reportagem, receberia, por intermédio de um amigo jornalista, convite para ir trabalhar na assessoria de imprensa da Petrobrás, no Rio. Perguntou ao amigo de quem partira o convite, o amigo declinou o nome do lobista aparentado de Miriam Dutra. Os lobbies em favor do silêncio começavam a convergir.

Um deputado federal da oposição liga para a redação pedindo o telefone particular de José Arbex Jr., editor especial de Caros Amigos. O telefone é fornecido. Arbex conta o diálogo ocorrido depois das saudações de praxe:

E aí, o que você manda??

Rapaz, eu queria te dar um toque, mas é em caráter pessoal.

Pode dizer.

Pois é, eu estava conversando outro dia com um cara que é muito ligado ao governo, e ele me disse que o pessoal estava preocupado com uma reportagem que a Caros Amigos está fazendo, o cara até me perguntou se eu sabia qual era a da Caros Amigos, se ela é do PT...

Do PT??

Pois é, rapaz, do PT. Eu falei que não, disse que não sabia nada sobre a Caros Amigos, até que passei numa banca de jornal e li o expediente da revista, e vi que conhecia algumas pessoas da redação. Por isso resolvi te ligar.

Sei, mas qual é a preocupação do governo?

Eles acham que vocês estão fazendo uma matéria escandalosa envolvendo o presidente. Eu acho que não é o caso, pois, conhecendo vocês, eu acho que não iriam por essa linha de sensacionalismo barato.

Ih, não é nada disso. Os caras, pra variar, estão mal informados. A reportagem não é sobre a vida do FHC, mas sim sobre a relação da mídia com o FHC, o silêncio cúmplice, essas coisas...

Ah, bom, eu sabia...

Mas eu não entendi muito bem qual é o toque que você disse que ia me dar.

É que eu vi que os caras estão preocupados, e como te conheço há muito tempo, e tem uma relação de confiança, apesar de talvez existirem divergências políticas, então resolvi conversar com você em caráter pessoal. Os caras estão muito preocupados, rapaz...

Eu te agradeço a confiança, mas a gente não vai promover nenhum sensacionalismo.

Nesse mesmo mês, fevereiro, liga para Sérgio de Souza, editor de Caros Amigos, o diretor de redação da revista Imprensa, Tão Gomes Pinto. Diz estar intercedendo em nome de Miriam Dutra, que lhe telefonara de Barcelona cheia de preocupação em relação à matéria e que ela queria falar com Sérgio. Pois não, respondeu Sérgio, dando ao interlocutor todos os seus números de telefone. O diretor da revista Imprensa, antes de desligar e depois de muito insistir sobre a preocupação de Miriam, disse que qualquer dia iria fazer uma visita à redação de Caros Amigos, que não conhecia ainda. Antes que se passasse meia hora, anunciam que Tão Gomes Pinto está na recepção, quer falar com Sérgio. Desce, cumprimentam-se, Tão vai repetir que Miriam está preocupadíssima mas que resolveu não telefonar para Caros Amigos. O tom resvala à dramaticidade. Sérgio pergunta se são amigos, Tão responde que conheceu Miriam nos tempos de Brasília, não chega a dizer que eram amigos. No meio da conversa, Sérgio, que tinha a informação de que Tão e o lobista aparentado de Miriam estavam naquele momento esgrimindo conjuntamente um lobby junto a uma empresa brasileira, pergunta se o diretor de redação da revista Imprensa conhece fulano de tal (dá o nome do lobista). Tão olha para o alto, como se buscasse na memória o personagem, até que, no timing certinho, diz que sim, mas que não vê o homem faz muito tempo, mais de ano. A pergunta faz com que a conversa se dilua, Tão chega a comentar, em tom cúmplice, que a nossa matéria devia ser feita pela revista Imprensa e despede-se fraternalmente, levando alguns livros da editora de Caros Amigos, a Casa Amarela, para divulgar em sua revista.

Diante disso, embora convictos de que se tratava de uma mentira encomendada pelo lobista, pedimos ao repórter de Barcelona que perguntasse a Miriam Dutra se ela havia pedido a intercessão do diretor de redação da revista Imprensa. O pedido a João Rocha, como o primeiro, foi feito por Mylton Severiano, que participava também da reportagem e é amigo do jornalista que vive em Barcelona. Mylton recebeu então o seguinte e-mail:

Logo depois de receber sua mensagem, encontrei um amigo brasileiro para ir almoçar. Na fila do restaurante, falávamos nosso portuguesinho despreocupado quando uma moça atrás de nós me cutucou no ombro: Vocês são brasileiros, não? E se apresentou:

Me chamo Tânia, sou de Brasília, estou fazendo doutorado aqui na faculdade.... Foi justo no momento em que me deu o estalo e, com aquele tipo de palavras que você não sente sair da boca, perguntei: Você é amiga da Miriam Dutra, não? E ela, surpresa: Ah, a Miriam, sou, como você sabe?? E eu, ainda naquele estado: É que ela me falou de você, que havia chegado há pouco tempo e que estava procurando apartamento para alugar.

Procurando apartamento? Não, imagina! Moro aqui há três anos! Nesse momento, o mundo se contorce e já não se entende mais nada. Mas, como eu, ela também fazia doutorado e, momentos depois, coincidências esclarecidas, resolvo puxar o assunto do filho do presidente e explico minha relação com Miriam: o interesse no suposto caso que Miriam supostamente teria tido com o presidente, do qual supostamente teria nascido um suposto filho, supostamente presidencial.

Suposto??, me interrompe a moça. Suposto, não! É do Fernando Henrique. Ela não te contou? É a cara do presidente!

Chegando em casa, ligo para Miriam. Quem atende novamente é Tomás: Péra um pouquinho. Maãããnhê!? Longa conversa, como havia sido a primeira, dessa vez contabilizada pelo cronômetro do telefone: uma hora e dez minutos. Quanto ao movimento de sugestão de silêncio, ela diz não ter a menor idéia de onde saiu. Fala que não tem nada a ver com isso e que a última pessoa com quem havia conversado sobre o assunto fui eu. Tão Gomes Pinto ela diz conhecer apenas profissionalmente, como jornalista respeitado, e que não tem nem sequer o telefone dele.

Comenta o contrato dela com a Globo, anual, de prestação de serviços no exterior, como há uns quarenta mais, acrescentando que veio por razões profissionais e por sua própria conta. Fala, também, em tom ameaçador mas brando: Se a revista publica uma coisa dessas, vai ter que provar. Sei dos meus direitos e conheço os meios jurídicos. Vai ter que provar. E, enfim, depois de eu muito cutucar, saiu: Tomás Dutra Schmidt, nascido no dia 26 de setembro de 1991 à zero hora e quinze minutos em uma maternidade de Brasília, batizado pela avó materna e registrado na mesma cidade somente no nome da progenitora.

Levando portanto sobrenomes iguais aos dela. A repórter e editora executiva de Caros Amigos, Marina Amaral, iria a Brasília para, além de solicitar uma audiência com a pessoa pública, tirar uma cópia, no respectivo cartório, da certidão de nascimento do menino. Antes, porém, como estava pautado, trataria de colher os depoimentos utilizados pelos grandes veículos para justificar o fato de nunca terem tratado do assunto.

Começa por Alberico Souza Cruz, atualmente na Rede TV!. A telefonista atende, Marina diz que deseja falar com ele, a ligação é transferida, atende voz masculina, Marina pede:

Por favor, o Alberico.

Quem gostaria de falar?

É Marina, da Caros Amigos.

Oi, Marina, tudo bem? É o Alberico.

Que bom, nem pensei que seria tão fácil falar com você... (risos)

Com prazer, pode falar.?

É um assunto meio delicado, mas, como vamos dar a reportagem na próxima edição, tenho de perguntar. A reportagem fala do filho da Miriam Dutra com...

Me desculpe, mas, sobre esse assunto eu não falo.

Mas a reportagem até diz que você é o padrinho do menino...

É, mas sobre esse assunto eu realmente não falo. Me desculpe. Até logo.

O sucessor de Alberico na direção de jornalismo da Rede Globo é Evandro Carlos de Andrade, ex-diretor de redação do jornal O Globo, função que exerceu de 1972 a 1995. Autoridade máxima e palavra final do jornal, seu depoimento para uma reportagem que põe em discussão as atitudes da imprensa diante de determinados fatos era de grande importância. No caso, principalmente porque foi na sua gestão que O Globo publicou, em 14 de dezembro de 1989, data em que a televisão transmitiria, à noite, o debate que decidiria a eleição presidencial em favor de Fernando Collor, o seguinte editorial, destacado na primeira página:

O direito de saber

O povo brasileiro não está acostumado a ver desnudar-se a seus olhos a vida particular dos homens públicos.

O povo brasileiro também não está acostumado à prática da Democracia.

A prática da Democracia recomenda que o povo saiba tudo o que for possível saber sobre seus homens públicos, para poder julgar melhor na hora de elegê-los.

Nos Estados Unidos, por exemplo, com freqüência homens públicos vêem truncada a carreira pela revelação de fatos desabonadores do seu comportamento privado. Não raro, a simples divulgação de tais fatos os dissuade de continuarem a pleitear a preferência do eleitor. Um nebuloso acidente de carro em que morreu uma secretária que o acompanhava barrou, provavelmente para sempre, a brilhante caminhada do senador Ted Kennedy para a Casa Branca para lembrar apenas o mais escandaloso desses tropeços. Coisa parecida aconteceu com o senador Gary Hart; por divulgar-se uma relação que comprometia o seu casamento, ele nem sequer pôde apresentar-se à Convenção do Partido Democrata, na última eleição americana.

Na presente campanha, ninguém negará que, em todo o seu desenrolar, houve uma obsessiva preocupação dos responsáveis pelo programa do horário eleitoral gratuito da Frente Brasil Popular de esquadrinhar o passado do candidato Fernando Collor de Mello. Não apenas a sua atividade anterior em cargos públicos, mas sua infância e adolescência, suas relações de família, seus casamentos, suas amizades. Presume-se que tenham divulgado tudo de que dispunham a respeito.

O adversário vinha agindo de modo diferente. A estratégia dos propagandistas de Collor não incluía intromissão no passado de Luís Inácio Lula da Silva nem como líder sindical nem muito menos remontou aos seus tempos de operário-torneiro, tão insistentemente lembrados pelo candidato do PT.

Até que anteontem à noite surgiu nas telas, no horário do PRN, a figura da ex-mulher de Lula, Miriam Cordeiro, acusando o candidato de ter tentado induzi-la a abortar uma criança filha de ambos, para isso oferecendo-lhe dinheiro, e também de alimentar preconceitos contra a raça negra.

A primeira reação do público terá sido de choque, a segunda é a discussão do direito de trazer-se a público o que, quase por toda parte, se classificava imediatamente de baixaria.

É chocante mesmo, é lamentável que o confronto desça a esse nível, mas nem por isso deve-se deixar de perguntar se é verdadeiro. E se for verdadeiro, cabe indagar se o eleitor deve ou não receber um testemunho que concorre para aprofundar o seu conhecimento sobre aquela personalidade que lhe pede o voto para eleger-se Presidente da República, o mais alto posto da Nação.

É de esperar que o debate desta noite não se macule por excessos no confronto democrático, e que se concentre na discussão dos problemas nacionais.

Mas a acusação está no ar. Houve distorção? Ou aconteceu tal como narra a personagem apresentada no vídeo? Não cabe submeter o caso a inquérito. A sensibilidade do eleitor poderá ajudá-lo a discernir onde está a verdade e se ela deve influenciar-lhe o voto, domingo próximo, quando estiver consultando apenas a sua consciência.

Marina Amaral procurou o atual diretor de jornalismo da Rede Globo, sendo informada pela secretária que ele só responde perguntas por escrito. Assim foi feito, seguiram quatro perguntas: 1. se havia chegado ao jornal O Globo, por ocasião das eleições de 1994, a informação de que grandes veículos estavam preparando matéria sobre o filho gerado de um romance entre Fernando Henrique Cardoso e Miriam Dutra; 2. se o jornal discutiu o assunto; 3. se cogitou de também preparar uma matéria a respeito; 4. e se o editorial - O direito de saber? havia sido escrito por ele, Evandro Carlos de Andrade.

A resposta veio no dia seguinte, por fax, manuscrita e assinada:

1. Não chegou ao meu conhecimento. As perguntas 2 e 3 estão prejudicadas.

4. Não me recordo, provavelmente não fui eu o autor, uma vez que escrevi poucos editoriais durante minha permanência no Globo.

No mesmo dia, 20 de março último, Marina Amaral procurou, por telefone, outro diretor de redação, Otávio Frias Filho, da Folha de S. Paulo. Depois de explicar em detalhes a origem da reportagem do artigo de Palmério Dória à foto interditada, Marina perguntou a Otávio se a Folha cogitara fazer a matéria em 1994. Resposta:

Vou ter muita dificuldade em responder a contento porque a Folha considera que esse não é um assunto de interesse público, é um assunto de ordem afetiva, e a Folha não publica assuntos de ordem afetiva enquanto pelo menos uma das partes interessadas não se manifestar. Essa moça não se manifestou.

Mas e o caso da namorada do Pitta, que vocês publicaram recentemente? Havia interesse público?

A Folha não publica assuntos de ordem afetiva enquanto uma das partes não toma alguma providência jurídica ou não se manifesta publicamente, quando consideramos que o assunto não tem interesse jornalístico. No caso dessa moça que você está citando, não lembro o nome dela...

Marlene Beteguelli, a secretária. E a Marina de Sabrit, que vocês também publicaram, com ela desmentindo...

Pois é. Houve insinuações, mas não publicamos nada até que ela própria deu uma entrevista ao Jornal do Brasil, se deixou fotografar.

Mas a notícia do filho do Fernando Henrique chegou à redação da Folha? Vocês pensaram em investigar, em procurar os dois??

Havia fofocas de redação que circulam há muito tempo, mas não tivemos condições de investigar porque não tínhamos nem condições de afirmar se essas histórias eram verdadeiras.

Posso dizer que a história do filho é verdadeira pelas investigações que fizemos. Inclusive falamos com a moça, que nos aconselhou a procurar a pessoa pública dessa história.

Se você está me dizendo que é verdade, acredito, porque não tenho motivo para duvidar de você.

Independentemente desse fato, você acha que a mídia tem tratado o presidente Fernando Henrique Cardoso com, digamos, condescendência?

Independentemente disso? Sim.

De que forma se manifesta essa condescendência?

Acho que a mídia tem sido de todas as formas condescendente. Quando um presidente tem taxas de popularidade altas, a mídia acaba refletindo essa tendência. Foi assim com o presidente Sarney, com o Collor no primeiro ano de mandato, vem sendo assim com o Fernando Henrique pelo menos até o segundo semestre do ano passado quando suas taxas de popularidade caíram.

A Folha acompanhou essa tendência?

A Folha, salvo melhor juízo em contrário, tem se mantido numa posição mais autônoma, mais inquisitiva, mais incômoda mesmo. A Folha tem uma série de colunistas que manifestam uma posição contrária a essa simpatia da mídia. Essa simpatia é clara, tanto que ele próprio (o presidente) fez uma boutade no episódio dos grampos do BNDES dizendo que a mídia estava até exagerando no apoio. Agora, com relação a esse episódio desse suposto envolvimento de ordem afetiva, não é nossa política investigar. Isso envolve outros casos, há diversos precedentes, mas não consideramos esse um assunto jornalístico, de interesse público. É isso.

Marina Amaral transcreveu o diálogo telefônico e enviou-o a Otávio, como pedira o jornalista. E acrescentou novas perguntas, que foram respondidas via e-mail pelo diretor de redação da Folha:

1. A Folha foi procurada pelo presidente ou por algum de seus assessores com o pedido de não dar ouvido a boatos a respeito do filho com a jornalista Miriam Dutra?

Não.

2. A Folha foi convidada a participar, juntamente com outros grandes veículos, de uma reunião com o presidente durante a campanha eleitoral de 1994?

Não. Embora tenha havido vários encontros jornalísticos entre representantes do jornal e o então candidato, alguns deles, possivelmente, com a participação de jornalistas de outros veículos.

3. A Folha sofreu alguma pressão no governo FHC em função de sua posição de independência?

Não, exceto queixas e reclamações, aliás freqüentes, de auxiliares do presidente, mas sempre dentro dos limites do que me parece legítimo numa democracia.

Nesse mesmo e-mail em que dá resposta às perguntas complementares de Marina, Otávio comenta a transcrição do telefonema:

A transcrição me parece OK, exceto pelo fato de que o discurso oral, quando transposto para o texto, sempre parece truncado e repetitivo. Imagino que você fará um copy para eliminar ou reduzir essa dissonância.

Dois detalhes: há uma resposta em que eu digo que: Havia fofocas de redação que circulam há muito tempo mas não tivemos condições de investigar porque não tínhamos nem condições de afirmar se essas histórias eram verdadeiras. Devo ter me expressado mal. Quis dizer que não investigamos por não vermos legitimidade na pauta, conforme dito anteriormente. E que não sabemos sequer se esses fatos são verdadeiros. O porque não tem sentido na frase.

Outro detalhe: Sarney desfrutou de grande popularidade enquanto durou o Plano Cruzado.

É isso. Um abraço.

Mylton Severiano também está empenhado na coleta de depoimentos. Marca uma conversa com Mino Carta na redação da Carta Capital, revista da qual Mino é o diretor. Começa com a mesma pergunta feita a todos: por que falam do filho deste e daquele, menos do filho de FHC com Miriam Dutra? Mino faz uma colocação e lembra de um episódio:

A questão é pertinente. Eu saí da IstoÉ em agosto de 1993. Dois anos antes, o Fernando Henrique me liga na redação:

Olha, Mino, está correndo uma história cabeluda, que enxovalha a mim e a minha família, por favor, se isso chegar aí, não dá nada, não publica não. Eu disse: tá bom, que esse tipo de coisa não me interessava mesmo. Eu nem sabia o que era.

E conta a Mylton Severiano que perguntou ao pessoal da redação de Istoé: Mas que história é essa que o Fernando Henrique me liga pra pedir que não publique?? E lhe disseram que vários jornalistas da IstoÉ tinham visto os dois no Piantella, nesses restaurantes de Brasília, às vezes em turma, às vezes a sós. E acrescenta:

Eu, pessoalmente, Mino jornalista, tenho receio de tocar nesses assuntos. Mas, em relação a Pelé, Lula... Jesus Cristo, é legítimo, é pertinente propor a questão. Pelo fato em si. O caso do Lula era diferente. Estava viúvo, solteiro. E o Fernando Henrique é casado.

Mylton cita o editorial do Globo sobre o direito de saber. Mino diz:

Uma das obrigações da mídia é fiscalizar o poder, inclusive a vida privada, particular. O perfil: tantos anos, é homossexual; se é grosseiro, quero saber. Se espancou a mulher, quero saber. Se dá em cima de mulher fora do casamento, quero saber. Agora, eu, como repórter, não me sinto bem com esse tipo de assunto.

Mylton pede que Mino explique melhor por que disse ser pertinente a questão que estamos levantando. Resposta:

Sim, a história do filho do Fernando Henrique você pode até perguntar se é verdade. Mas, sendo verdade, é pertinente querer saber por que não publicam. Como foi possível levantar aquela do Lula? Aquilo foi terrível. Completamente diferente. Ele estava solteiro, viúvo. Saía com a moça e, naturalmente, quando um homem sai com uma mulher, acabam fazendo o que todos sabemos. Ele não queria o filho. Foi uma desgraça. Agora, por que Lula e não Fernando Henrique? Por que Pelé e não Fernando Henrique? Existe? Então, por que não falar? Se é figura pública e dá em cima das mulheres, não sabe se portar. Vai envergonhar o país mais cedo ou mais tarde, se se torna figura representativa do país dele. Eu não estou falando dele, estou falando de qualquer um.

Mylton lhe diz:

Mas isto se aplica a ele, depois de tudo o que apuramos e todo mundo sabe.

Então..., falou Mino, rindo irônico.

Depois de falar com Mino Carta, Mylton Severiano ia telefonar para outros dois jornalistas de publicações importantes. Conversas velozes. Primeiro com Celso Kinjô, editor-chefe do Jornal da Tarde, do qual Mino foi o fundador. Celso lhe disse que nunca pensaram em fazer matéria no JT. A posição da casa é não tocar em assuntos pessoais. Uma ocasião um repórter levou uma foto do filho de Orestes Quércia e ela ficou na gaveta. A casa é escrupulosa em relação a esse tipo de assunto, não está escrito mas nem merece tratamento editorial. Disse também não lembrar qual foi o tratamento da casa com relação a Miriam Cordeiro, em 1989.

Depois, com Marcelo Pontes, alto escalão no Jornal do Brasil em 1994, fazia o Informe JB. Trabalha hoje no gabinete do Ministério da Fazenda. Mylton conta:

Foi perceptível ao telefone seu desconforto quando anunciei o assunto. Eu havia dito à secretária que falava em nome da Caros Amigos. Mas atendeu logo. Ficou repetindo: 94, 94, 94, que que eu fazia no JB? 94, 94, 94.... Lembrou-se então de que fazia o Informe. Mas o jornal fez matéria?

Mas eu não posso falar pelo jornal. Ouvi boatos, boatos, estou dizendo, não tinha nenhuma prova. Nem considerei que esse assunto de vida pessoal fosse publicável.

Mas nós sabemos que outras publicações foram atrás.

Ah, me parece que o JB publicou algo sim, feito pelo Maklouf. Tá bom? (louco para se livrar de mim).

Agradeci, um abraço, desliguei.

Na penúltima semana de março, Palmério Dória foi ao Rio de Janeiro, tratar de outros assuntos profissionais com um grupo de jornalistas, do qual faz parte um colunista muito importante da imprensa carioca. Era uma sexta-feira, dia do chamado pescoção nos jornalões, quando os colunistas caçam notas a grito. O colunista queria saber de Palmério se Miriam Dutra abriu ou não abriu (sobre a paternidade do menino), dizendo, depois de uma longa conversa, que ia dar uma nota em sua coluna no final de semana. Voltou a ligar mais tarde, perguntando quantos anos a Caros Amigos ia fazer. Palmério procurou no jornal do sábado, do domingo e da segunda. Nada. Na tarde da própria segunda encontraram-se em mais uma reunião do grupo, à qual o colunista chegou dizendo, na frente de dois outros jornalistas: Em dez anos de coluna, nunca passei por uma situação como essa!? E contou que alguém do alto escalão do jornal chegou a ele com a nota na mão e disse que ela só poderia sair com autorização do primeiro homem da empresa.

Faltavam poucos nomes para completar a lista de depoimentos de jornalistas, antes de Marina Amaral solicitar a audiência com a pessoa pública, com o que encerraríamos a reportagem.

Faltava falar com quem em 1994 dirigia o Diário Popular, de São Paulo, Miranda Jordão; com Ricardo Noblat, do Correio Braziliense; e com o chefe da sucursal da Folha de S. Paulo em Brasília, Josias de Souza.

Mylton Severiano liga para Miranda Jordão, hoje no jornal O Dia, Rio de Janeiro. O diálogo:

Alô.

(Me identifico como da Caros Amigos, tudo bem? Tudo bem.) Estou trabalhando numa matéria sobre o filho do Fernando Henrique com a Miriam Dutra... ?

Filho o quê?

O Tomás Schmidt, filho do Fernando Henrique e da nossa colega Miriam Dutra.

Não estou sabendo de nada.

Bem, nós temos a informação de que o Diário Popular, em 1994, você estava lá, teria feito ou tentou fazer a matéria, através do Cláudio Humberto.

Nunca. Não tínhamos relação alguma com o Cláudio Humberto. ?

Bem, pode ser uma informação furada, mas você sabe da história, não?

Não, nunca soube de nada. (cortante)

Que interessante. Bom, se você nunca soube, está bem. Muito obrigado.

Marina Amaral vai a Brasília, já telefonara de São Paulo cinco dias antes à procura de Ana Tavares, assessora da presidência da República. Tinha sido atendida por um dos membros da assessoria, Geraldo Moura. Sem adiantar o assunto, Marina disse que queria marcar uma entrevista com Ana. Geraldo se mostrou surpreso: Entrevista com ela?? Mas respondeu que provavelmente não haveria problema e que daria um retorno. Não deu. Assim que chegou em Brasília, no dia 22 de março, Marina localizou o cartório o Marcelo Ribas, no Edifício Venâncio 2000 em que fora registrado Tomás. Tinha o nome completo do menino, da mãe e a data e horário do nascimento, que a própria Miriam Dutra dera a João Rocha em Barcelona. Tirou a cópia, que é um documento público, pagando por ela 1,90 real.

Por telefone, depois entrevistou Josias de Souza, diretor da sucursal da Folha em Brasília.

Na matéria que estamos fazendo, percebemos que há um tabu referente ao assunto do filho do presidente Fernando Henrique com a jornalista Miriam Dutra. Argumenta-se que o assunto é privado, que não tem interesse jornalístico. Me chamou a atenção que você e o Gilberto Dimenstein tenham tratado disso no livro que escreveram sobre a campanha de 1994 (A História Real - Trama de uma Sucessão, editora Ática-Folha de S. Paulo). O assunto tem interesse jornalístico?

Abordei esse assunto em ocasiões em que me pareceu claro o interesse jornalístico. Uma vez foi na própria Folha, na coluna da página 2, durante a campanha eleitoral de 1998. O PDT havia explorado o fato de forma eleitoreira no site do partido. Aquilo me pareceu jogo sujo de campanha. Fiz, então, uma analogia com outros casos, envolvendo inclusive chefes de Estado, como o Mitterrand. Fiz uma comparação com a cultura jornalística brasileira, a meu ver mais evoluída nessa matéria. Nos Estados Unidos, por exemplo, qualquer bobagem sexual relacionada a presidentes e candidatos é supervalorizada pela mídia. Acho que esse tipo de assunto só deve ser abordado quando há relevância jornalística. Como no caso do PDT, que decerto tentou reeditar procedimento sujo utilizado antes por Collor, na disputa contra o Lula. No livro que escrevi com o Gilberto, o assunto veio à tona porque descobrimos que a dona Ruth Cardoso havia se isolado em Nova York pouco antes de Fernando Henrique decidir se seria ou não candidato à presidência. Um dos motivos que fizeram com que ela se isolasse foi o receio de que esse caso fosse explorado durante a campanha eleitoral. Entendemos que não havia por que evitar o assunto. Decidimos dar a ele o tratamento jornalístico que julgamos adequado.

Mas a Folha diz que não trata de assuntos de ordem privada...

Veja, a posição da Folha é que essas questões têm de ser tratadas à luz do interesse jornalístico. Um bom exemplo é o caso do namoro do Bernardo Cabral e da Zélia, dois ministros de Estado, em que um liberava verba para o outro, ou seja é assunto de interesse público. A vida privada de um político tem relevância se de algum modo passar a interferir na sua atividade como homem público.

Mas e a filha do Maluf, as namoradas do Pitta?

Não há uma fórmula. Há uma linha geral, um princípio a ser observado. A publicação depende da análise de caso a caso. A filha do Lula foi transformada em assunto jornalístico pelo Collor. O tema dos supostos relacionamentos extra-conjugais do Pitta vieram à tona graças ao rompante de Nicéa.

No caso da Miriam Dutra, vocês investigaram, falaram com ela?

Falamos com várias pessoas que tinham relação com o fato. Para nós, era relevante checar a veracidade da história.

E vocês conseguiram apurar?

Isso foi apurado, sim.

Marina só conseguiria falar com Ricardo Noblat, o último da lista, depois da volta a São Paulo. Por telefone.

Estamos fazendo uma reportagem sobre as relações da mídia com o presidente Fernando Henrique Cardoso...

Eu soube. É boa reportagem. Me diz uma coisa, a moça confirmou?

Nós falamos com ela e tentamos falar com o presidente. Você assumiu a direção do Correio em fevereiro de 1994?

É, fevereiro de 94.

E nunca ouviu falar de um filho de Fernando Henrique fora do casamento?

Eu ouvi esse assunto por aí. Depois fiquei sabendo que a Veja tinha ido conversar com o presidente e com a jornalista, apurado nas duas pontas, e que ambos negaram. Aí, como não tinha prova, não tinha por que apurar, tanto que a matéria da Veja não foi publicada. Se você tivesse uma outra prova, poderia ser. Em mesa de bar, jornalista comenta...

Você leu o livro publicado no final de 1994 pelos jornalistas Josias de Souza e Gilberto Dimenstein?

Confesso que não. Por quê? Ali conta?

Conta. Na parte em que comenta que dona Ruth se isolou em Nova York, lembra?

Acho que lembro, sim, o Fernando Henrique foi falar com ela. Mas conta mesmo? Não estou me fazendo de bobo, é que eu não sabia mesmo. Você falou com eles?

Falei com o Josias, ele confirma o que escreveu.

Confirma? E por que a Folha não publicou?

Porque considera assunto de vida privada. Você publicaria?

Mas eles falaram da filha do Maluf, das namoradas do Pitta... Aqui em Brasília, um jornal evita muito entrar na vida pessoal, a não ser que vire um fato supercomentado. A gente não publica nem fitas, aqui temos um código de ética muito rigoroso. Mesmo aquelas fitas grampeadas que todo mundo deu, a gente só deu depois de uns dias para explicar para o leitor: está ocorrendo uma crise por causa de umas fitas... e diz o teor; nós nem publicamos aquelas transcrições que todo mundo publicou. Mas a Folha disse o quê?

Nada muito diferente do que você disse, assunto de vida privada. Você acha que o fato de um presidente ter um filho fora do casamento é um assunto jornalístico?

Mas aí você está fazendo uma afirmação que eu não posso comentar.

Não estou fazendo uma afirmação, estou fazendo uma pergunta. ?

Não, eu não posso responder isso em tese porque sei de que tese você está partindo. Não posso falar de um fato que eu não apurei, não que esteja duvidando de você, mas aí eu não posso.

Está bom, Noblat, muito obrigada.

Obrigado, eu. Boa noite.

Marina não conseguira uma entrevista com Ana Tavares, muito menos uma audiência com o presidente. Eis o esperado mas curioso anticlímax da reportagem, narrado por ela:

No dia 22 de março, já em Brasília, liguei novamente para Ana Tavares e novamente Geraldo Moura me atendeu. Marina, fui eu que falei com você a outra vez. Você queria conversar com a Ana, né? Infelizmente não vai ser possível porque a agenda dela está uma loucura, ela nem tem vindo aqui, porque está preparando uma viagem do presidente. Mas nem por telefone, dez minutinhos? Não, está impossível mesmo. Mas você pode falar comigo, eu também faço parte da assessoria da presidência.

Explico então que estamos dando uma matéria que fala das relações do presidente Fernando Henrique com a mídia analisando o episódio do filho dele com a jornalista da Globo, Miriam Dutra, e acrescento que estou cumprindo minha obrigação como jornalista, já que a própria Miriam havia nos dito que procurássemos a pessoa pública dessa história. E explico: É por isso que preferia falar com a Ana Tavares pessoalmente, é um assunto delicado. Ele responde, efusivo: Não, nem tem problema, essa história surge periodicamente desde 1983... Pondero que em 1983 o garoto nem tinha nascido. Ele corrige: Não, 1993, desde que entrei aqui. Nós temos uma orientação sobre isso, mas nesse caso vou falar com o presidente e depois telefono para você, diz, simpático.

Uma hora depois ele me liga, o tom de voz completamente mudado. Bastante seco, diz: Nós desconhecemos esse assunto. Pergunto se essa é a resposta da assessoria ou do presidente. Ele: Não se pode falar com o presidente sobre esses assuntos através da assessoria porque a assessoria só trata de assuntos institucionais da presidência. Pergunto então com quem devo falar para que minha pergunta chegue ao presidente. A resposta: Cabe a você, como repórter, encontrar uma maneira de falar com o presidente. Até logo.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

APAGÃO

APAGÃO
Mais uma vez, a grande mídia tenta "emprenhar" os seus leitores e telespectadores, pelos ouvidos e pelos olhos. Desde o blackout ocorrido que tentam todos os dias, durante todo o dia, criar fatos para obter ganhos políticos para os seus comparsas oposicionistas. É a mesma tática usada em outros momentos, o PIG noticia e os oposicionistas repetem na tribuna do congresso, o que foi noticiado e novamente, o PIG noticia o que foi dito pelos oposicionista. Tentam, inclusive, mostrar ao povo que o Blackout ocorrido foi igual ao apagão de 2001 no governo tucano do FHC. Sobre isso, o Eduardo Guimarães, em seu blog, traz explicações que mostra claramente e convincentemente, que um não tem nada a ver com o outro. Vejam:

Apagão de FHC (2001 e 2002)

O país teve que economizar 20% de energia elétrica durante o período do racionamento. Se os brasileiros não tivessem conseguido economizar, teriam ocorrido cortes periódicos e programados de energia elétrica nas cidades.

O plano atingiu 35% dos consumidores residenciais do Sudeste e o Centro-Oeste e 87,9% dos consumidores do Nordeste, além do comércio e da indústria



COMO ERAM AS PENALIDADES

Só era obrigado a economizar 20% quem tinha conta mensal acima de 100 kWh.

Quem consumia entre 101 kWh e 200 kWh não pagava multa, mas tinha que economizar 20% para não ter a energia cortada.

Quem consumia acima de 200 kWh por mês ficava sujeito a corte e multa.

As contas de luz acima de 200 kWh mês eram sobretaxadas mesmo que o consumo estivesse dentro da cota.



MULTA VARIAVA DE 50% A 200%


Os consumidores que não reduziam o consumo pagavam tarifas de 50% a 200% mais caras pela energia que ultrapassava a cota.

Todo consumo entre 201 kWh e 500 kWh era sobretaxado em 50%, mesmo que o consumidor economizasse os 20%

A parcela acima de 501 kWh tinha uma sobretaxa de 200%.



QUEM ULTRAPASSAVA COTA FICAVA NO BREU POR ATÉ 6 DIAS


Quem descumpria as cotas de racionamento estava sujeito a um corte de energia de três dias no primeiro mês e seis dias em caso de reincidência.

Para saber qual foi a cota para junho de 2001, no início do racionamento, o consumidor teve que calcular a média do que tinha consumido em maio, junho e julho de 2000 e cortar 20%.


AS COTAS PARA A INDÚSTRIA E COMÉRCIO


Indústria e comércio com rede de baixa tensão tiveram que reduzir o consumo para 80% do consumo médio dos meses de maio, junho e julho do ano passado.

Indústria e comércio de alta tensão tiveram a meta calculada em função do nível de tensão e do setor da empresa. Para esse grupo, a meta de redução variava de 75% a 85%. A média também era calculada com base nos consumos dos meses de maio, junho e julho de 2000.

O consumidor rural teve que reduzir em 10% o consumo médio de energia a partir do dia 1º de junho de 2001, na comparação com os meses de maio a julho do ano anterior.

“Apagão” de Lula (10/11/2009)

Falta de luz por períodos que variaram de quinze minutos a três horas.


DELFIM NETO

DELFIM NETO
O Delfim Neto escreveu na Carta Capital, artigo que leva o título " Carisma e Poder", leiam abaixo:

Carisma e poder

Delfim Netto

No jogo político moderno, mais do que em quaisquer outros, as imagens e palavras têm um efeito fantástico sobre o nosso comportamento. Disse “moderno” porque, antes de nossa “época”, alguns instrumentos adicionais (veneno, punhal…) eram utilizados, com efeitos também fantásticos, tão ou mais radicais, mas provavelmente menos eficientes… É isso que leva os políticos habilidosos a utilizarem-nas para manipular a opinião pública na direção que lhes convém. Uma palavra ou imagem bem escolhida tem o efeito de vírus transmissor de infecção.

No Brasil temos dois exemplos marcantes, modernamente se diria “emblemáticos”. Um foi o de Jânio Quadros, há apenas 59 anos. Com a imagem da “vassoura”, iria varrer “a corrupção que desgraçava este País”. A ideia era forte e o alvo, claro: os políticos corruptos e o funcionalismo público. Estes “deveriam servir e respeitar o povo que os sustenta, mas em lugar disso o humilham e servem-se dele”.

Diligente e inteligente administrador, e ainda melhor ator, tão logo eleito prefeito de São Paulo (por grande maioria, mas puro acidente), criou a “administração-espetáculo”, que o transportou, em nove anos, numa carreira meteórica, de político desconhecido, de vereador a prefeito (1953-1954), a governador de São Paulo (1955-1959) e a presidente do Brasil (1961). Em 1953, demitiu em massa funcionários municipais com retumbante sucesso popular. Em 1955, fez o mesmo no funcionalismo estadual. Segundo Jânio, “cada pontapé” dado no funcionalismo público lhe rendia “10 mil votos…” Uma ideia simples, mas forte: combater a corrupção, objetivada num alvo indefeso, fácil de localizar e odiado (ou invejado?) pela sociedade.

O outro exemplo, este de “ontem”, é Fernando Collor. Com o mesmo mote de combater a corrupção, mas agora com um alvo difuso – o “marajá” –, mobilizou a sociedade brasileira com o mesmo desprezo de Jânio pela estrutura política e partidária. Mas quem era o “marajá”? A habilidade da mensagem foi identificar, em cada mente simples, o “marajá” como o seu desafeto mais próximo. Uma ideia arrebatadora transformou, em poucos meses, um inteligente, mas pouco conhecido, político alagoano em presidente da República. No final, talvez os dois tenham sido vítimas da mesma doença: 1. Seu espetacular sucesso. 2. Sua imaturidade. Quando renunciou, de forma muito mal esclarecida, Jânio tinha 44 anos. Quando foi cassado, num jogo político até hoje bem escondido, Collor tinha 43.

Todo esse longo introito é apenas para lembrar como as palavras têm força. É por isso que uma questão puramente acadêmica (talvez de escolástica-medieval, saber se a economia entrou ou não numa recessão) adquiriu contorno e significado politicamente transcendentes. Os fatos estão aí. Houve, em 2008 e início de 2009, uma queda no nível do emprego e do nível de atividade no Brasil, acompanhando a liquefação de toda a economia mundial e ameaçando transformar a marolinha de Lula num “apagão” que afinal não houve.

Naqueles momentos, não eram muitas as pessoas que esperavam respostas do governo na direção correta e ‘muitos mais’ (obviamente, a “burguesia endinheirada”) simplesmente descriam da capacidade do presidente de lidar com problemas altamente sofisticados que haviam embananado a linguagem e ofuscado as imagens de boa parte da academia mundial.

Não tenhamos dúvida de que sua imagem seria oferecida na próxima campanha eleitoral em 2010, não como “marajá” ou “corrupto” (que o povo sabe que ele nunca foi), mas como o legítimo espécime daquela “raça” que nós “elegemos por engano”. Peço desculpas aos leitores, pois ouvi essas expressões tão “politicamente corretas” num salão nobre, de gente que obviamente nunca viajou num “pau de arara”.

Pensei se, na verdade, existiria uma forma maior de, ainda menino, conhecer o chão de seu país e o ânimo de sua gente do que vencer 2 mil quilômetros de estradas poeirentas a bordo de um legítimo “pau de arara”? Depois, enfrentar um piso de fábrica, terminar um curso do Senai, desafiar o humor de um regime autoritário e criar o maior sindicato obreiro do Hemisfério Sul? Finalmente, sem passar pela academia, sem ao menos ler Gramsci, Althusser, Keynes ou Schumpeter, tornar-se o “cara” que conduziu o grande país a vencer a recessão antes da maioria dos principais protagonistas globais?


quinta-feira, 12 de novembro de 2009

MULHERES ROBÔS

MULHERES ROBÔS
Em uma exposição em Paris, foram apresentadas as últimas novidades, em matéria de humanóides fêmea, segundo matéria da "Carta Capital". O Japão sai na frente na criação das "beldades sedutoras do futuro". Aiko é o nome da criação do inventor japonês Le Pung, que acredita ser questão de tempo, para as pessoas amarem androides e que até 2050, poderemos ter até casamentos de humanos com robôs.

PETROBRÁS CRESCE 1350% NO GOVERNO LULA

PETROBRÁS CRESCE 1350% NO GOVERNO LULA
Mais uma que a grande mídia esconderá dos seus "leitores mal informados": Li no blog da Petrobrás que esta empresa cresceu 1350% durante os últimos 8 anos, entre dezembro de 2002 e novembro de 2009, ou seja, durante o governo Lula. A Petrobrás é hoje a terceira maior empresa de capital aberto do continente americano, perdendo apenas, para as empresas americanas Oxxon e Microsofit, primeira e segunda colocadas, respectivamente. No final de 2002 a Petrobrás ocupava a 121º colocação e hoje, a terceira, subindo 118 posições.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

LULA NO FINANCIAL TIMES

A entrevista de Lula ao Financial Times

o Presidente Lula concedeu entrevista ao Jornal ingles Financial Times, transcrevo do blog "Vi o Mundo" do Azenha:

Entrevista publicada no dia 8 de novembro pelo jornal britânico Financial Times:

Financial Times: Sr. Presidente, me diga, como é que o Brasil saiu da crise financeira e econômica global tão rapidamente?

Presidente Lula: Bom, primeiro de tudo, eu acredito que é importante para você entender o que aconteceu no Brasil antes da crise. Estávamos determinados a acabar com a paralisia que o Brasil sofreu durante os anos 80 e 90. O Brasil teve de voltar ao caminho do crescimento e investir em infra-estrutura como condição para o sucesso nas décadas futuras. Uma coisa importante é que muitas das medidas que alguns países tomaram só após a crise, o Brasil já as havia feito em janeiro de 2007.

Deixe-me lhe dizer algo que vai soar como uma ironia do destino. Eu tinha medo de concorrer a um segundo mandato. Não estava satisfeito com a idéia de concorrer novamente. Por quê? Porque eu tinha a impressão de que um segundo mandato, poderia ser apenas mais da mesma coisa. Teria falta de motivação se as coisas não fossem bem, e tudo que tínhamos conseguido fazer no primeiro mandato, não seria suficientemente bom para sustentar um segundo mandato. Eu ainda tinha muito vivo em minha mente os erros de Fernando Henrique Cardoso [Fernando Henrique Cardoso, seu antecessor ], em seu segundo mandato. O fracasso dele ainda estava em minha mente.

Muito bem, em 2006, discutindo o segundo mandato, disse aos meus colegas que era necessário começar 2007 com um programa de investimento que iria nos ocupar completamente nos próximos quatro anos. E nós preparamos o PAC. O PAC é o programa de crescimento acelerado. O PAC iria ser lançado em 2006. Mas um dos meus conselheiros em comunicação aconselhou-me não lançá-lo em 2006, porque seria visto como parte da campanha de políticos durante as eleições, e que poderia perder a credibilidade com a população.

E os meus assessores disseram - "Você não precisa do programa de aceleração do crescimento para ganhar esta eleição" - as eleições presidenciais de 2006. Então, o PAC foi lançado somente após as eleições, e é isso que nós fizemos em 22 de janeiro de 2007. E o PAC foi uma das principais razões da crise ter chegado tarde ao Brasil e é uma das razões do Brasil ter saído da crise em primeiro lugar, porque para um país desenvolvido, US $ 300 bilhões de investimentos é nada, mas para um país do tamanho do Brasil que não estava acostumado a fazer tais investimentos, os investimentos públicos, um programa de investimentos do governo para quatro anos de US $ 300 bilhões, era um desafio extraordinário.

Então o que aconteceu realmente foi que, quando veio a crise, o Brasil já está fazendo muitos investimentos, coisa que outros países só começaram a discutir hoje. O Brasil já estava fazendo investimentos pesados. As coisas já estavam em curso e, em uma reunião com o meu Ministro da Fazenda, com o Presidente do Banco Central, com o Ministro do Planejamento, disse a eles, "temos agora de tratar a economia como se estivéssemos em guerra".

Não podíamos perder tempo em reuniões e ouvindo um monte de pessoas. As medidas anti-cíclicas tinham que ser implementadas imediatamente. E nós tivemos a participação do Congresso. Isso foi muito importante, porque todas as medidas, todos os projetos que nós mandamos para o Congresso para enfrentar a crise, o Congresso aprovou-los muito rapidamente. Mesmo a oposição passou nossas medidas muito rapidamente em uma demonstração clara de que todos estavam muito preocupados com os efeitos da crise no nosso país.

É importante lembrar que em 22 de dezembro de 2008, eu fiz algo que eu nunca imaginei que eu faria. Houve um grande pânico provocado pela imprensa e nos meios de comunicação sobre os E.U.A, o que estava acontecendo na Grã-Bretanha, na Europa, uma crise mundial, e toda a imprensa dizendo que o consumo iria cair. Então eu fui na TV nacional e fiz uma declaração, uma declaração de nove minutos para chamar o povo brasileiro a comprar mais, consumir mais de uma forma responsável. Havia uma idéia de que os trabalhadores não estavam comprando mais nada porque estavam com medo de perder seus empregos, e eles não conseguiriam pagar suas prestações, suas contas. Fui à televisão para dizer que era compreensível esse medo de perder o emprego, mas que eu tinha certeza que eles iriam perder seus empregos se não comprassem nada. Portanto, era necessário que, dentro do orçamento de cada um, deverámos comprar tudo o que nós esttvéssemos interessados em comprar.

Ao mesmo tempo concedemos incentivos fiscais para a indústria automobilística, para produtos de linha branca, geladeiras, máquinas de lavar, fogões e materiais de construção. E por último, mas não menos importante, anunciamos um programa de construção de um milhão de casas para a população de baixa renda, das quais metade são para a faixa de renda muito baixa, que é de zero a três salários mínimos. E nós colocamos R $ 100 bilhões, o equivalente a US $ 50 bilhões a mais ou menos, no banco de desenvolvimento nacional, um banco estatal, pelo que poderá financiar projetos de desenvolvimento.

Lançamos no mercado mais R $ 100 bilhões dos depósitos compulsórios que os bancos têm de manter no Banco Central, para abrir os fluxos de crédito. Fizemos os bancos públicos comprarem as carteiras de bancos pequenos usadas para financiar compras de carros usados e nós tomamos a iniciativa de comprar dois bancos importantes; a Caixa Econômica do Estado de São Paulo e 50 por cento do Banco Votorantim . Isso é um banco de direito privado.

Por que fazemos isso? Porque o mercado de carros usados ficou paralisado, completamente sem vendas. Se você não vender seu carro usado, você não compra um carro novo, e Banco do Brasil, que é um banco estatal, não tinha experiência neste domínio, no financiamento de veículos usados, assim, ao invés de ensinar o seu pessoal a aprender sobre financiamento de carros usados, compramos um banco que tinha grande experiência no mercado de carros usados; o governo comprou 50 por cento desse banco.

E hoje, graças a Deus, o mercado se normalizou e a indústria automobilística no Brasil é vende normalmente os carros novos.

E então, nós também enfrentamos um problema muito sério de venda de caminhões. Nós queríamos renovar a frota de caminhões no Brasil. E agora nós desenvolvemos um programa de financiamento para permitir que as pessoas possam comprar caminhões novos, em condições altamente vantajosas. Assim, o autônomo, motorista free-lance poderia comprar seu próprio caminhão.

Em julho do ano passado, lançamos um outro programa chamado Mais e Melhor Alimentação, e que financiou a compra de 60.000 tratores e 300.000 máquinas agrícolas para a agricultura familiar.

FT: Senhor Presidente, sobre a imagem que o senhor descreveu para um grande momento. O senhor disse que estava preocupado com o seu segundo mandato. Muitos financistas internacionais e dos mercados de Wall Street estavam preocupados antes e durante o seu primeiro mandato. Será que eles erraram a leitura? Que tipo de socialista o senhor é?

PL: Primeiro de tudo, eles erraram a leitura, mesmo. Se as pessoas tivessem lido minha biografia, perceberiam a forma sempre muito responsável que conduzimos nossa atividade junto ao movimento sindical no Brasil, e se essas pessoas levassem em conta o fato de que tínhamos perdido três eleições anteriores, e que havíamos esperado por 12 anos, tempo suficiente para o partido amadurecer e para um candidato a amadurecer. E eu era o único candidato no Brasil que não poderia falhar. Eu não podia me dar ao luxo de cometer erros. Eu não poderia proceder do mesmo modo que [Lech] Wałęsa fez na Polonia, ou nenhum trabalhador jamais seria eleito presidente novamente.Estávamos trabalhando com a idéia da necessidade do sucesso, para que outros trabalhadores pudessem ter os mesmos sonhos que tive, e eles também poderiam concorrer à presidência. Então, eu estava trabalhando obsessivamente com a convicção de que eu não podia cometer erros.

Assim, em nível internacional, acredito que eles fizeram uma análise sociológica às pressas. Eles me julgaram erradamente, a mim mesmo e o nosso partido além de subestimar nossas possibilidades. Os melhores intelectuais no Brasil estavam nos apoiando.Tínhamos ao nosso lado a maioria dos movimentos sociais. Tínhamos o apoio da maioria do movimento operário. Tínhamos uma grande parte da esquerda política no Brasil. Também tivemos ao nosso lado o que faltava para eu termos vencido as eleições anteriores, e que foi um grande empresário como meu vice-presidente; ter alguém da classe empresarial para ser meu vice-presidente, que era a maneira de conquistar os 20 por cento dos votos que faltaram em cada uma das eleiçõs anteriores.

Então eu trouxe para ser vice-presidente uma pessoa que considero ser o melhor vice-presidente do mundo, um homem do mundo empresarial, que tem hoje a maior empresa têxtil no mundo. Ele é vice-presidente e ajudou a quebrar tabus e preconceitos no mundo empresarial. Este foi um passo importante que só depois das eleições alguns setores empresariais começaram a compreender, e aqui eu quero dizer publicamente, que Gordon Brown era alguém muito importante, uma pessoa muito importante, porque através de todo esse tempo, ele confiava no Brasil e sempre falou bem do meu governo. E o diretor-gerente do FMI, eu me lembro de uma reunião em Paris, em 2003, quando eu estava conversando com [Horst] Köhler sobre o Brasil, sobre a minha vida. Isso foi quando eu tinha sido pouco menos de um mês no cargo. E, de repente, estávamos abraçados e nós estávamos a chorar.

FT: O quê, você Köhler?

PL: Sim, em Paris, 2003; janeiro de 2003. Então havia muita compreensão de alguns líderes internacionais, apoiando as nossas políticas, diferentemente de outros períodos. Todo mundo que veio nos visitar sabia dos esforços que nós estávamos emppreendendo, e em seguida, eles começaram a falar bem do Brasil ao redor do mundo. Assim, os mercados tornaram-se um pouco menos preconceituosos, e [Jacques] Chirac foi uma figura muito importante que me apoiou. Olha, eu estou falando sobre o direito do povo de direita.

FT: Você persuadiu [George W] Bush?

PL: Sim. Sou muito grato ao presidente Bush. Lembro muito bem como se fosse hoje. Em 10 de dezembro de 2002, antes da inauguração, fui a Casa Branca para falar com o presidente Bush. Bush estava falando sobre a guerra do Iraque, o futuro da guerra do Iraque , de uma forma muito obsessiva, dizendo que estava lutando contra o terrorismo ... Ele falou muito francamente. Após 40 minutos disse ao presidente Bush - "Presidente Bush, o Iraque é de 14.000 quilômetros de distância do meu país. Não tenho nada contra o Iraque, mas tenho uma outra guerra no Brasil. Essa é a guerra é para acabar com a fome no meu país. Esta é a minha prioridade. Assim, a partir daí em diante, nós estabelecemos uma amizade muito boa. Tornei-me um amigo de Bush.

FT: Senhor Presidente, quero fazer outra pergunta sobre a economia, mas muito brevemente, o senophr se referiu à sua formidável coligação que o ajudou a ganhar o seu primeiro mandato. Essa coligação que pode manter-se unida quando deixar o poder?

PL: Sim

FT: Por quê?

PL: Sim, e nós estamos sempre construindo esta coligação. Primeiro de tudo, porque sei que quem vai ser o futuro presidente não será capaz de mudar todas as conquistas que a sociedade brasileira veio a se beneficiar. Em segundo lugar, porque eu tenho um candidato muito bom, ela é muito competente, que conhece o Brasil muito bem. Muito poucas pessoas sabem o Brasil como ela faz, ela é o grande gerente do sucesso do nosso governo.

FT: Mas ela não tem o seu carisma, Senhor Presidente.

PL: Ela vai ter que construir. Uma coisa que eu acredito que é importante é que se eu conseguir eleger Dilma, o meu grande contribuição será para lhe permitir desenvolver seu próprio estilo, para desenvolver sua própria maneira de fazer as coisas.

FT: Alguma vez o senhor pensou em um terceiro mandato? E eu pergunto, porque eu só passei uma hora e meia com o presidente [Álvaro] Uribe.

PL: Eu comecei a entrevista dizendo que eu estava com medo do meu segundo mandato. Acredito que o sucessor que consegue isso através de uma eleição não tem o direito de pensar de um terceiro mandato, porque o sucessor, uma vez eleito tem direito apenas a um segundo mandato.

FT: Vamos voltar para a economia. É esse crescimento atual é sustentável? É demasiado dependente de commodities?

PL: Não, não é dependente de commodities. O crescimento é sustentável porque envolve diversos setores. Commodities sim, são importantes. O setor industrial é importante. As exportações são importantes. A indústria de construção naval e da indústria da construção são importantes. A indústria petroquímica é importante. Ou seja, nós tomamos a decisão de tornar o Brasil uma economia grande e verdadeira, e Deus ajudou-nos de duas formas, basicamente.

Em primeiro lugar, porque o mundo vai continuar a precisar de mais alimentos, e o Brasil tem todas as condições adequadas para produzir parte desse alimento. Em segundo lugar, porque descobrimos uma enorme reserva de petróleo, e nós não queremos usar o petróleo como tradicionalmente os países produtores de petróleo têm usado , para ser apenas meros exportadores de petróleo cru e petróleo cru não combina com o desenvolvimento nacional. Portanto, estamos desenvolvendo um fundo no escopo do novo marco regulador da indústria do petróleo só para cuidar especificamente ...

FT: Não há a preocupação do demasiado peso da mão do Estado?

PL: Não, não estou preocupado. Estamos desenvolvendo um fundo com o objetivo de investir em educação, ciência e tecnologia, saúde, cultura e meio ambiente. Estas são as prioridades. É um fundo que será investido nos mercados, e vamos repassar todos os investimentos que temos neste fundo. Nós não vamos gastar o dinheiro do fundo. Queremos ser exportadores de derivados de petróleo, e não exportadores de petróleo, porque nós queremos desenvolver uma forte indústria de petróleo e uma indústria naval forte também. Queremos construir nossas plataformas de perfuração, nossas próprias plataformas offshore, e os nossos próprios navios. E nós queremos desenvolver uma forte indústria petroquímica. Nós já estamos trabalhando nisso.

FT: Petrobras é uma empresa de classe mundial. Nós sabemos disso. Mas você vai precisar de alguma tecnologia estrangeira aqui.

PL: Sim, e nós queremos isso, e nós queremos compartilhar o nosso conhecimento com estrangeiros também, então é por isso que estamos fazendo todos os esforços para incentivar as empresas de petróleo em todo o mundo a desenvolver parcerias conosco na construção de estaleiros com docas secas, para que possamos construir coisas no Brasil.

FT: Muitas pessoas que criticam o seu governo, mas também existem pessoas que não são tão críticas, disseram que há uma pressão do Estado nesse sentido. Houve pressão sobre a Vale, por exemplo, para investir na produção de aço? Como vê a relação entre os setores público e privado no futuro governo?

PL: Eu acredito que, se você analisar as coisas corretamente, duvido que em qualquer momento da história do Brasil o setor privado tenha tido mais respeito por parte do Estado do que tem hoje. Duvido que eles não tenham aproveitado esse respeito, ou que já tenham ganho mais dinheiro. O que peço a Vale é que deve transformar minério de ferro em aço no Brasil e, ao mesmo tempo, comprar o maquinário e os navios que precisa no Brasil, porque é assim que você trazer a tecnologia para o país.
Agora, se você não fizer isso, o que acontece? Nós vamos vender o nosso minério de ferro para a China. China vai construir navios de grande porte. China produz 540 milhões de toneladas de aço, eo Brasil só fabrica 35milhões de toneladas de aço. E precisamos exportar material com valor agregado também.

FT: Senhor Presidente, o senhor é um patriota econômico, então? Ou você é um nacionalista econômico?

PL: Eu sou um patriota, um patriota econômico. Isso é um termo que eu gosto. Sim, gosto disso. Isso me agrada. Você tem que pensar sobre o futuro do país. O minério de ferro e petróleo, estas são coisas que funcionam para fora, por isso, se você não tiver cuidado, logo você esgotará a oferta, e ficará órfão. Então o que precisamos fazer? Temos que aproveitar este momento e construir uma base industrial mais sólida e no Brasil. Nós não estamos cometendo nenhum pecado. Nós queremos ser um país mais industrializado.

FT: Não é um pecado, mas as pessoas querem entender qual a forma de Estado não vai ser no futuro. Quão grande é o papel do Estado na determinação do futuro da economia do Brasil?

PL: A minha visão do Estado é que esta discussão sobre o estado ... na minha opinião, a discussão usual sobre o papel do estado terminou como resultado da crise global. Por um longo tempo, em todo o mundo, inclusive no Brasil, as pessoas disseram que o estado não tinha e os mercados governariam tudo. E no Brasil, você sabe, eles até pensaram que o mercado deve regular até mesmo a educação , o que é uma idéia absurda.
Então, primeiro de tudo, e quero deixar isto bem claro aqui, eu sou contra o Estado ser o gestor da economia. Eu sou contra essa idéia. O estado tem que ser forte, mas como um catalisador de desenvolvimento, uma entidade que impulsiona o desenvolvimento em nível regional no nosso país, e o estado ao mesmo tempo, deve exercer a supervisão das boas práticas, econômicas e políticas de boas práticas. E podemos dar-lhe um exemplo. Por que o sistema financeiro no Brasil não quebrou na crise? Porque ele é fortemente regulamentado.

FT: Porque lá o senhor não tem muitos loiros de olhos azuis...

PL: É importante esclarecer isso, porque quando eu falei sobre o cabelo loiro e os olhos azuis, quando a crise aumentou, eu estava reagindo aos comentários de pessoas que colocaram a culpa da crise sobre os migrantes e imigrantes. As pessoas pobres da África e do mundo vão ter de pagar a crise e que não foram eles que causaram. Então é por isso que eu disse, esta crise não é uma crise dos pobres, não é proveniente do pobre, ou latino-americanos, ou de africanos. Essa crise é proveniente dos ricos com os olhos azuis. E eu disse isso ao Gordon Brown em palácio, no Palácio do Presidente.
Você sabe o que fizemos no Brasil há dois meses? Legalizamos todas as pessoas que estavam em situação irregular no Brasil, todos eles, para dar uma demonstração clara aos países ricos que não temos de perseguir os pobres por causa de uma crise econômica da qual não são culpados.

Agora, por favor, preste atenção. Você pode imaginar que se todos os países ricos gastassem 10 por cento do dinheiro que eles gastaram na crise global para salvar o sistema financeiro em uma política de ajuda aos países mais pobres do mundo? Os países ricos dizem que não podem ter recursos para financiar a redução da pobreza nos países pobres. Mas, para salvar seus bancos, eles encontraram trilhões e trilhões. Se tivessem ajudado alguns países pobres, o mundo seria um lugar melhor. O dinheiro que eles não tinham para ajudar os países pobres, de repente apareceu. Trilhões e trilhões de dólares apareceram para salvar um sistema financeiro que havia sido quebrado de forma irresponsável.

Então, eu acredito que isso deve servir de aviso para nós. O Estado não pode controlar tudo ou intrometer-se em todos os assuntos, mas você não pode manter o estado longe de tudo, como era nos anos 80 e nos anos 90.

FT: Senhor Presidente me perdoe a brincadeira, mas eu gostaria de citar uma outra coisa que você disse, voltando para assuntos externos, o que eu pensei que era um pouco ideal, que é: o senhor disse que quando começou como sindicalista, se houvesse um problema no Brasil, você iria culpar o governo. Então, quando o senhor estava disputando a presidência como candidato da oposição, se houvesse um problema, o senhor culparia o governo. Mas então, quando o senhor se tornou presidente do Brasil, e houve um problema em seu país, o senhor culpou os Estados Unidos?

PL: Não, não vou para o inferno por esse pecado. Nunca transferi minhas responsabilidades para os outros. Quando eu era um líder trabalhista colocava menos culpa no governo, porque era um líder dos metalúrgicos. Isso não teve nada a ver diretamente com o governo; era diretamente com a classe empresarial. Quando eu estava lutando contra o governo era porque eles não forneciam informações sobre as taxas de inflação. Eles ocultavam essa informação, ou mentiam, ou quando o governo proibiu as manifestações dos trabalhadores ou para chegar a um acordo. Eles iriam intervir na mesa de negociação. Mas a minha luta naqueles dias era contra os empregadores, e não contra o governo.
É verdade, sim, que todo mundo que está na oposição, põe a culpa no governo. É verdade. Eu fiz isso também. O meu partido fez isso também. Mas, por favor, eu nunca coloquei a culpa seja no imperialismo ianque, e menos ainda sobre os outros países ricos, porque a culpa, porque o Brasil é o que é, a culpa deve ser colocado na elite brasileira, a elite econômica e política. Esses são os únicos culpados. Pessoas que não têm uma mentalidade para pensar sobre questões sociais ... Eles não pensam no país como um todo e, durante séculos eles eram ficaram subordinados a outros interesses, subservientes.
E tenho dito para muitos líderes, os líderes políticos da América Latina, parar de colocar a culpa nos outros. Olhar para dentro de seu país, o que acontece dentro de seu país. O que acontece com a classe política em seu país, olhar para eles. Como é que o setor empresarial se comporta em seu país? É muito fácil você transferir suas responsabilidades para outros, colocar a culpa nos outros.

FT: O senhor mantém boas relações com outros países da América Latina que seguem políticas diferentes das suas, e têm idéias diferentes das suas.

PL: Bem, eu carrego comigo uma lição que eu aprendi. Eu penso de quando o Presidente Nixon, em 1973, decidiu fazer da China um parceiro comercial preferencial. Eu acredito em convivência com a diversidade. Nós não temos o direito de pensar que outras pessoas devem pensar como nós. Temos de trabalhar muito e democracia permite-lhe ter relações pacíficas entre os diferentes países.

E olha como isso é extraordinário. Temos excelentes relações com a Colômbia e o Peru, temos excelentes relações com Venezuela e Bolívia. Porque eu faço isso? Porque para mim, as diferenças entre nós são muitas vezes históricas. Nós ainda temos muitos problemas que herdamos do século 19 na América Latina; fronteiras, questões de fronteiras terrestres questões, mar.

Então, qual é o papel de um país que é a maior economia, a maior da população e tem muito mais tecnologia? Qual é o papel que o Brasil deveria ter? Não se trata de estabelecer uma política hegemônica vis-à-vis a outros países. Ou ele deve estabelecer uma relação democrática, para que as pessoas possam ver que não estamos interferindo ou com ingerência na política interna de sua soberania, na sua política soberana. Você não pode empurrar as pessoas em cantos. É muito importante para você entender que ... Eu sempre digo que o Brasil não deve trabalhar no sentido de hegemonia, mas apenas para a construção de parcerias, porque durante o século 20, ou pelo menos, dois terços do século 20, a Política Estadual de os E.U. foi no sentido de convencer países sul-americanos que o grande império era o Brasil.

Então olhe para este paradoxo. Empresários bolivianos tinham medo dos empresários brasileiros, mas eles não tinham medo dos empresários americanos. Empresários mexicanos tinham medo dos empresários brasileiros, mas eles não tinham medo dos empresários americanos. Chávez foi um professor da academia militar, e ele dizia isso publicamente em suas aulas, dizia que os militares venezuelanos devem estar muito alertas contra o império brasileiro. Na política você só aprende a teoria maquiavélica: dividir para conquistar. No Brasil, sob o meu governo, nós começamos a reconstruir a confiança na América do Sul, porque você não pode se desenvolver sem a confiança política. E graças a Deus, estamos conseguindo fazer isso.

FT: Os Brics são quatro os países com os seus próprios interesses divergentes. Você acha que é um grupo significativo?

PL: Sim, é. O maior exemplo que posso dar é a União Europeia. Parecia impossível há 30 anos para nós imaginar que a União Europeia seria como hoje. Há quantos anos a França foi bombardeada pela Alemanha? Então, de repente, todos esses países estão juntos, e agora eles ainda decidiram eleger um Presidente da União Europeia e um ministro dos negócios estrangeiros. Isso é algo fantástico. Quem poderia imaginar que a Alemanha iria eleger uma mulher da Alemanha Oriental tornar-se chanceler da Alemanha?
Então, é para essas coisas positivas que temos de trabalhar. É como quando você encontra uma nova namorada. Se você olhar apenas defeitos e falhas, você vai conseguir nada. Mas se você olhar pelo lado positivo, pode acabar se casando. E na política, temos que saber existem divergências entre os Brics, e colocá-los de lado. Coloque as divergências de lado e começar a trabalhar sobre os pontos que podemos construir juntos, e é assim que vamos construir uma aliança forte entre os Brics.

Não se trata de exigir que alguém deve fazer concessões sobre as coisas que eles não acreditam. Queremos desenvolver objetivos que possam ser alcançados por todos. Deixe-me dar um exemplo.

Sugeri na reunião passada, dos BRICs, que foi em Yekaterinburg, que devemos começar a operar em nossas próprias moedas. Nós não precisamos do dólar. Podemos comérciar com a nossa própria moeda nacional. Isso iria ajudar sobretudo que as pequenas e médias empresas tenham acesso a moeda nacional e os bancos centrais fornecem a garantia. Qual é o problema? Não há problema. É apenas uma questão cultural, porque estamos acostumados com o dólar, mas isso pode mudar. E esta é uma mudança extraordinária para os países que têm de comprar dólares. Agora, nesta crise, tivemos que colocar nosso dinheiro de reservas para garantir os nossos exportadores devido à crise de crédito.

FT: Ninguém poderia imaginar... Vocês estavam mesmo emprestando dinheiro ao FMI. Há uma ironia histórica.

PL: A ironia foi quando eu chamei de Rato o FMI e disse que eu não queria o dinheiro do FMI. Ele disse, não, nós precisamos de emprestar o dinheiro para o Brasil. O Brasil precisa de pedir emprestado. Brasil deve manter seus empréstimos com o FMI. É muito importante para mim, para mostrar que o Brasil ... Eu disse: não, eu não quero seu dinheiro. E ele estava realmente chateado quando recebeu de volta os US $ 16 bilhões que nós emprestou. E eu ainda trabalhei com a idéia de que vamos chegar ao final do meu mandato com uma taxa de inflação de 4 por cento. Não muito tempo atrás eu costumava sonhar de acumular US $ 100 bilhões em reservas cambiais. Em breve teremos $ 300 bilhões.

FT: Vamos falar sobre Copenhague. O Brasil está em uma posição incomum. Tem uma matriz energética limpa e pode reduzir as suas emissões de CO2 através da redução do desmatamento. Mas isso é muito difícil para os outros países emergentes? O que o Brasil pode oferecer em termos de liderança?
PL: O Brasil vai com muito cuidado e com grande responsabilidade para Copenhagen. Em primeiro lugar, já assumiu o compromisso, em setembro do ano passado na ONU, para se estabelecer uma meta, um alvo, para reduzir o desmatamento em 80 por cento até ao ano 2020. E o Brasil tem outras coisas que pretende fazer. Primeiro, porque 85 por cento da nossa energia elétrica é limpa. E de nossa matriz energética total, 47 por cento é limpa. Nenhum outro país tem tanta energia limpa. O Reino Unido tem somente 2 por cento de energia limpa.

Agora o Brasil compreende a realidade de cada país e o Brasil não vai fazer o discurso fácil de fazer exigências aos outros. Não, nós vamos mostrar em Copenhagen, qual é a meta para o Brasil e nós não queremos nos subordinar os outros países a adotar a meta brasileira.

Objetivos no Brasil são objetivos do Brasil, mas vamos trabalhar para que possamos construir um acordo que poderia ser viável para outros países.
Creio que algo importante já está ocorrendo. Todo mundo percebe que todos nós temos que fazer algo. E eu acredito que com todos fazendo um pouco de sua parte, podemos evitar a morte do planeta. Temos um processo de aquecimento de 2 graus nos últimos 30 anos. Nós estamos tentando trabalhar com a idéia, juntamente com outros países e, certamente, a minha conversa com o primeiro-ministro Gordon Brown noite será na questão ambiental. Nós já conversamos com os E.U.A. , com a França e com a Alemanha. Em 26 de novembro, vamos ter uma reunião com os países amazônicos, em Manaus, a capital do Amazonas. Já temos o mapeamento do zoneamento agro-ecológico da cana para a floresta, e agora nós estamos fazendo um levantamento de como podemos recuperar as terras degradadas no Brasil, e nós estamos fortalecendo nossa política de bio-diesel. Acabamos de aprovar para 1 de janeiro o diesel B5. Para o próximo ano vamos ter uma mistura de 5 por cento de biodiesel no óleo diesel.

FT: O que você vai pedir de Gordon Brown?

PL: O Brasil não está pedindo nada.

FT: E o que Gordon Brown vai ser pedir ao Brasil?

PL: O Reino Unido sempre foi e continuará a ser um parceiro internacional. Eu acredito que o Reino Unido deve trabalhar com a idéia da Europa para avançar um pouco mais, inclusive em termos de bio-diesel no óleo diesel e também em termos de redução do aquecimento global. Deverá haver um fundo para financiar os países mais pobres. A UE irá desenvolver um trabalho extraordinário de seqüestro, seqüestro de carbono.

FT: Teria que ser como o Fundo Amazônia do Brasil?

PL: Pode ser algo semelhante para o Fundo Amazônia. Estamos indo para ir à reunião com a mente aberta, de modo que outras propostas poderiam ser benvindas. Acho que não é hora de radicalizar. O bom senso deve prevalecer. Se queremos apenas fazer um discurso ideológico, um discurso fácil, nós poderíamos obter alguns aplausos, mas não vamos obter nenhum resultado. E agora não é o momento de colocar a culpa em ninguém. Agora é a hora de encontrar uma saída.

FT: Senhor Presidente, muito obrigado.