A UM PASSO DA ESCURIDÃO
Publico abaixo, artigo escrito por Eduardo Guimarães em seu blog Cidadania.com. O Eduardo é um brasileiro que não se contenta com as injustiças sociais, com o preconceito, com o comportamento das nossas elites e da nossa mídia. Visitem o seu blog.
À luz de fatos recentes, chego à conclusão de que o que acontecerá no Brasil depois de 2010 deve ser objeto de ampla reflexão das forças democráticas que queiram impedir que um virtual desastre aconteça.
Devo informar que procurei olhar com olhos de ver a situação político-institucional brasileira e descobri quanto estamos distantes de alcançar um patamar minimamente edificante na escala de maturidade democrática das nações.
Mesmo que todos saibam que um caso como esse do deputado do castelo sonegado ao fisco que viola direitos trabalhistas de seus empregados é apenas mais um entre tantos outros na nossa trágica crônica política, e que essa é apenas a ponta do iceberg do que existe de podre na política brasileira, quantos não achavam que hoje a situação seria um pouco melhor do que ontem?
E a situação é ainda mais grave do que se pensa.O Congresso inteiro, governo e oposição, deputados, senadores, chefes do Executivo, é óbvio que todos sabiam quem era o tal “Edmar”. De repente, todos eles posam de virgens escandalizadas que meramente descobriram que viviam em confraternização com uma prostituta.
O fato é que hoje no Congresso temos um reduzido contingente de verdadeiros ideólogos de alguma coisa. A maioria daquela casa é ocupada por vigaristas e oportunistas sem ideologia alguma e que vão para onde o vento sopra contanto que enriqueçam nos cargos que ocupam e com as liberações de verbas públicas que intermedeiam entre o Poder Executivo e a iniciativa privada.
O mesmo se reproduz por todas as Casas Legislativas pelo país afora.
Chega-se a um ponto em que as discussões ideológicas que travamos aqui tornam-se cômicas. Enquanto uma maioria de cidadãos honestos com ideais progressistas ou conservadores se insultam em nome da classe política, esta é composta por uma maioria de espertalhões que se candidatam simplesmente para enriquecer, dando uma banana para ideais.
Descobri isso faz décadas, claro, mas num momento em que vejo o país encantado por finalmente estar sendo governado, descubro que estamos mal arrumados, porque o que nos separa da escuridão é muito pouco.
Hoje, o que faz com que o Brasil avance um pouco para o povo de forma que ele apóie com tanto fervor o governo é apenas Lula, que com sua popularidade torna um pouco menos indócil a canalhada que infesta o Executivo, o Legislativo e o Judiciário.
Vejam o caso do PMDB. Desde quando aquilo é um partido? Entrevista de Michel Temer, presidente da Câmara, hoje na Folha revela o que todos sabemos, que o PMDB espera para ver se Lula manterá a popularidade para decidir se ficará ao lado dele e de sua candidata em 2010.
Temer, ao abrir a possibilidade de o PMDB ir para a eleição presidencial com o governo, com a oposição ou com candidatura própria, essa declaração desnuda como o partido não passa de um aglomerado amorfo de interesses sectários e paroquiais que vão para onde o poder estiver, ou seja, onde estiverem os cargos e as verbas.
O DEM, por sua vez, é um reduto de bandidos de todos os tipos, abrigados sob as asas de caciques políticos com influência no Judiciário, e que teve até que mudar de nome, de tão sujo que estava.
Na última década, vimos o ex-PFL abrigando desde traficantes de drogas que serravam seus desafetos ao meio ainda vivos até parlamentares que transportaram dezenas de malas coloridas recheadas de dinheiro em jatinhos. E agora, como se não faltasse mais nada, até descerebrados que constroem castelos medievais, sonegam direitos trabalhistas e enganam o fisco enquanto têm a coragem de ocupar cargos no Congresso como fiscais da ética de seus pares.
Restam o PSDB e o PT como únicos partidos fortes um pouco mais ideológicos, sendo o primeiro o partido do capital transnacional e o segundo da classe trabalhadora e dos movimentos sociais.
Em torno do primeiro, gravitam legendas com direção conservadora de direita e que servem de abrigo a bandidos e oportunistas de todos os tipos, vigaristas que não teriam vez num partido de centro esquerda e que, por isso, procuraram uma de direita. Já em torno do segundo, gravitam legendas de direita cem por cento de aluguel, como o PMDB, o PTB e outras excrescências, e um ou dois pequenos partidos de verdade, com programa e ideologia.
Com exceção do PC do B, do PSOL, do PSTU e até do folclórico PCO, partidos que não aspiram o poder, não há hoje ideologia legítima na política. O país depende de um presidente extremamente carismático e popular para combater a corrupção e fazer políticas públicas de interesse da maioria.
Uma frase de Luiz Carlos Azenha resume o que penso: "Lula é o que nos separa hoje da escuridão. "
A aposta do país hoje está toda centrada na resistência que Lula será capaz de opor à crise internacional e de continuar trabalhando furiosamente, como vem fazendo, para gerar fatos políticos que mostrem à sociedade que o Estado está do seu lado nessa crise. Se o apoio a Lula cair, a escuridão avançará sobre o Brasil como uma praga de gafanhotos.
É bom que todos tenhamos consciência de que este país está dependurado por um fio. A única chance que temos de o Brasil não ser tomado por uma quadrilha em 2011 é a de que Lula se sustente em sua popularidade. E o pior é que popularidade tão alta parece que não tem mais para onde subir, sendo mais provável que caia do que aumente.
Não se pode desprezar, no entanto, o fato de que a resistência da popularidade do presidente diante do sério agravamento da crise no Brasil mostra um nível de consciência popular que poderia dar razão ao presidente quando ele diz que confia no discernimento da população.
Eu, porém, não confio. Basta olharmos o Congresso lamentável que temos para deduzir que a esmagadora maioria vota com os intestinos em vez de votar com o cérebro. Quem é que elege o cara do Castelo e todos os seus pares que, sabendo que convivem com um escroque, permitem que seja encarregado de fiscalizar o comportamento deles?
Como é possível que um partido sem idéias, sem programa, que não passa de eterno coadjuvante do Poder, esteja Ele ocupado por quem for, como é o caso do PMDB, continue crescendo como vem crescendo, ao ponto de se tornar o maior partido do país e de presidir as duas mais importantes Casas Legislativas brasileiras?
Confiar num eleitorado desses me parece uma loucura. E a vocês?
A questão de Lula reside muito mais na blindagem que as campanhas difamatórias que sofre desde que entrou na política lhe concederam. Num momento em que o país está bombando ou que resiste como nenhum outro a uma crise tão impressionante quanto essa que aí está, os adversários dele, sobretudo na imprensa, dizem coisas que ninguém entende, como que esse é “o pior governo da história”.
Duvido que alguém neste país ignore que tevês e jornais não gostam de Lula. E duvido que alguém acredite seriamente nas acusações que a imprensa lhe faz. Nem os direitistas mais empedernidos acreditam em nada, apenas apóiam essas acusações porque a imprensa é a única arma que têm – ou que acham que têm – para tentarem retomar o controle do Estado.
Então, meu amigo leitor, minha amiga leitora, vocês estão nas mãos de Lula, nas mãos que se espera que consigam segurar a aprovação dele nesses patamares, não só para manter o país animado com o futuro, impedindo a crise de se instalar com mais força, mas para impedir as quadrilhas da política de assaltarem com mais sede a arca do tesouro pública.
Agora, que é desanimador você saber que tem uma maioria de canalhas como o tal deputado do castelo ou que apóia bandidos como ele ocupando o Legislativo, é desanimador demais. O país está entregue a gente capaz de vender a mãe por dinheiro, quanto mais ideais políticos. Daí você olha para o Judiciário, cheio de bandidos. Olha para o Executivo, cheio de bandidos. Olha para a imprensa, para as igrejas, para a instituição que quiser, e vê todas cheias de bandidos.
A situação do Brasil hoje é conjuntural. Tudo repousa nas costas de um único homem, que consegue conter apetites e fazer passar migalhas para as massas miseráveis de forma nunca antes conseguida, mas que não passam de migalhas. É muito pouco e é muito frágil o que nos separa da escuridão neste momento.