domingo, 12 de abril de 2009

A DESMORALIZAÇÃO DA CPI DOS GRAMPOS E O LAMAÇAL DA VEJA
Hoje, no blog do Azenha, "Vi o Mundo", ele fez comentários brilhantes e que servem para desbaratar os interesses escusos da revista Veja, na cpi dos grampos, ou seja, na defesa dos interesses do Daniel Dantas. Leiam abaixo os comentários ou vão direto ao Blog "Vi o Mundo" do excelente jornalista Azenha:
Eu, Azenha, observo:
Visando dar cobertura à sua atuação em defesa dos interesses do banqueiro Daniel Dantas, a revista "Veja" agora diz que ele é "ex-banqueiro" e se refere a Dantas como "criminoso". Tudo bem, desde que os reais interesses de Dantas sejam preservados: a anulação da Satiagraha, comprometida pelo "festival de abusos, trapalhadas e ilegalidades" de Protógenes, que a revista define como "bipolar" e "lisérgico", ou seja, sob efeito de LSD.
"Espera-se que a PF consiga dar à Satiagraha um mínimo de lógica", pede a revista. Ora, se ela é fruto de um bipolar lisérgico, como é que poderia ter lógica? Se não tem lógica, como é que se sustenta nos tribunais?
O delegado Amaro Vieira Neto, que investiga Protógenes por vazamento de informações e interceptação ilegal, já produziu um relatório que incrimina o colega e será um poderoso "argumento" nas mãos dos advogados de Dantas.
A revista se refere a Protógenes como "talentoso Ripley", justamente a alcunha que a revista CartaCapital deu ao blogueiro Reinaldo Azevedo, de Veja, um dos mosqueteiros que atuam em defesa de Gilmar Mendes e acusando Protógenes. E usa "ínclitos" para se referir a uma suposta bancada de defesa de Protógenes no Congresso. "Ínclito" é como Paulo Henrique Amorim se refere a Protógenes.
Notem que a revista inclui na suposta bancada de defesa de Dantas apenas os deputados aos quais pode imputar alguma acusação. Não menciona Chico Alencar, do PSOL, nem o senador Pedro Simon, do PMDB, por exemplo. E se refere a uma "claque" de Protógenes, como se fosse uma torcida organizada por interesses escusos.
A partir disso é possível concluir:
1) Que a "Veja" teme a claque de Protógenes, ainda que ela caiba em uma Kombi;
2) Que a internet está fazendo efeito para romper a defesa do banqueiro assumida pela mídia corporativa;
3) Que Protógenes agrega, agora, um apoio parlamentar superior ao que agregava há algumas semanas.
O texto da revista volta a fazer uma série de acusações contra o delegado sem apresentar as provas. O fato de que ele tem o número do telefone de alguém na memória do computador não significa absolutamente nada. Pela lógica de Veja, a apreensão dos discos duros dos computadores da revista revelariam uma imensa conspiração da Abril para buscar informações e chantagear o Brasil.
Essa é uma prova que eu faço questão de ouvir: o áudio de um grampo ilegal que tenha sido feito pelo delegado Protógenes ou um dos agentes da Polícia Federal ou da Agência Brasileira de Informações (ABIN) e que tenha sido incluído na Satiagraha. O resto é cortina de fumaça.
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Mas o texto da Veja é mais revelador pelo que não noticiou.
Para uma revista que se mostra tão interessada pelo conteúdo do computador de Protógenes, a ponto de divulgar até mesmo um texto de caráter pessoal que seria de autoria do delegado, é curioso que Veja nada tenha mencionado do relatório atribuído ao delegado sobre as relações de Daniel Dantas com a mídia.
De acordo com o relatório, baseado em escutas telefônicas legais:
1) Naji Nahas pagou 50 mil reais em dinheiro, num envelope, ao jornalista Roberto D'Ávila, namorado da juíza Ellen Gracie, do Supremo Tribunal Federal, aquela que havia impedido o acesso da Polícia Federal ao conteúdo de um disco rígido do banco Opportunity -- o mesmo que depois daria origem à Operação Satiagraha.
2) Naji Nahas, em conversa com uma pessoa de nome Sergio, diz que o colunista Diogo Mainardi, de Veja, "está a serviço do Daniel". Na mesma conversa, Sergio diz que Lauro Jardim, de Veja, "é aliado".
3) Daniel Dantas tem uma conversa com uma jornalista não identificada, à qual diz que "o Diogo afirmou na segunda-feira que não vai continuar". O banqueiro também sugere à jornalista fazer "um arremate elegante e sair do assunto". Tudo indica que ele se referia à ex-repórter da Folha de S. Paulo, Janaina Leite, que esteve envolvida em uma polêmica com Luís Nassif pela internet. Em sua série sobre a revista Veja, Nassif sustenta que a jornalista, quando ainda trabalhava no jornal, prestou serviços aos interesses de Daniel Dantas. Ela nega.
Os grampos legais da operação Satiagraha pegaram conversas de Dantas com jornalistas. Em algumas existe referência a MNI, de mulher não identificada. Em um terceiro, Janaína Leite é identificada. Num dos grampos legais ela aparentemente avisa Dantas que já se livrou da polêmica com Nassif.
Todos esses grampos, legais, a gente gostaria de ouvir no Jornal Nacional -- acompanhados pelas devidas explicações de Naji Nahas e de todos os outros citados, para que não pairem dúvidas.
Veja também não se refere às investigações da Polícia Federal que não descobriram, até agora, nenhum indício físico da existência de grampo de conversa telefônica entre o presidente do STF, Gilmar Mendes, e o senador Demóstenes Torres. É o tal "grampo sem áudio", que serviu de base para o afastamento do delegado Paulo Lacerda da ABIN.
Ou seja: foi uma reportagem de Veja, sem provas, que deu origem à CPI das Escutas Telefônicas Clandestinas; outra, sem provas, que provocou o afastamento de Paulo Lacerda; e uma terceira, até agora sem provas, que prorrogou o funcionamento da CPI.
Há indicios materias mais fortes de que jornalistas de Veja e da Folha de S. Paulo favoreceram os interesses do banqueiro Daniel Dantas do que indícios materiais de que o delegado Protógenes ou o ex-diretor da ABIN, Paulo Lacerda, tenham cometido ilegalidades.
Finalmente, a revista Veja simplesmente fez que não ouviu o depoimento completo do delegado Protógenes Queiroz, em que ele sugeriu que a CPI analise os documentos que a Kroll produziu supostamente a serviço de Daniel Dantas.
Eu diria que Protógenes esnucou a CPI: o material existe e não está protegido por segredo de Justiça. Se a CPI se dedica a investigar escutas clandestinas, por que deixaria de analisar esse material para determinar se, de fato, a Kroll fez ou não grampos ilegais?
Desconfio que a CPI vai dar um jeito de acabar sem ouvir novamente Daniel Dantas, nem Paulo Lacerda. E sem ir atrás do que podem ser provas relacionadas ao objeto da existência da CPI: grampos ilegais. A Kroll grampeou ilegalmente? Fez isso a pedido do banqueiro? Se a CPI não for atrás dos documentos da Kroll, ficará provado que ela existiu com o objetivo apenas de promover os interesses de Daniel Dantas.
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Essa novela ainda tem muito a oferecer. Eu quero saber, por exemplo:
1) Qual é o conteúdo dos arquivos apreendidos na casa de Daniel Dantas e que foram enviados à polícia dos Estados Unidos?
2) Qual era o nexo entre Daniel Dantas e Naji Nahas? Eles de fato atuavam em conjunto? Qual o objetivo?
3) Dantas saiu da telefonia e transferiu os negócios para o setor agropecuário e de mineração. Que tipo de influência ele está exercendo nos bastidores do Congresso e do estado brasileiro com o objetivo de fazer avançar os seus interesses? Ele faz algum lobby para moldar a legislação que abrirá as reservas indígenas à mineração?
4) Quais são, se existem, os interesses comerciais comuns de Dantas com empresários da comunicação no Brasil? É uma relação de patrocinador-patrocinado? Ou de sociedade em negócios?

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